Hoje, finalmente, elegemos o presidente do Brasil para os próximos quatro
anos. A campanha, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi uma
das mais lastimosas dos últimos tempos. Acusações, denúncias e brigas marcaram
o pleito deste ano. Apesar de não ser um bom critério de veracidade, tomo por
princípio acreditar em tudo o que um diz sobre o outro. Acho que ambos se
conhecem bem. A contagem de votos revelará que Aécio ou Dilma ganhou as
eleições. Ao mesmo tempo, porém, as urnas mostrarão que perdemos todos nós ao
elegermos alguém tão descomprometido com a honradez e a ética no trato com o
próximo.
Como cristão, sei dos meus deveres em relação às autoridades instituídas
por Deus: Orar, honrar, pagar impostos, obedecer. As Escrituras normatizam a
obediência civil como dever cristão, até o ponto em que essa obediência não
represente ato de desobediência a Deus. Ao professar a fé cristã, submeti livre
e voluntariamente minha consciência à Palavra de Deus. Assim, no que me
concerne, tenho procurado fazer isso, além de ensinar os mesmos valores à minha
família e igreja. Pretendo estender essa deferência ao novo mandatário do nosso
país e espero que os demais cristãos façam o mesmo, “por temor ao SENHOR”.
Contudo, devo admitir que não é fácil. Sem incorrer na temerária atitude de
julgar os outros – no caso, os dois candidatos – a partir de informações que,
pelo jeito, jamais serão dadas como verdadeiras, confesso que, pra mim, o dever
cristão de prestar obediência ao(à) meu(minha) presidente é tão ou mais difícil
do que lutar contra outros tantos pecados que me atormentam.
Por exemplo, não me sinto confortável em honrar uma pessoa que,
sabidamente, tem em seu entorno colaboradores metidos em casos de desvio do
dinheiro público (os dois candidatos, de acordo com denúncias públicas, têm.).
Trata-se de uma parte do dinheiro que poderia, se bem aplicada, ter evitado que
minha família tivesse de se humilhar anos atrás, tentando que bons médicos
atendessem de graça ao meu irmão
(vítima de toxoplasmose), porque o SUS não oferecia esse acompanhamento e o
profissional – que mais tarde cuidou gratuitamente do meu irmão – só atendia em
hospitais particulares.
Também não é simples pra mim ter de me submeter a alguém cuja política
externa parece caminhar em direção aos Estados Unidos, colocando nossas
riquezas em subserviência aos interesses do Tio Sam. Igualmente, faz-me sofrer
a constatação de que essas mesmas riquezas, hoje, patrocinam portos em Cuba e
obras na Venezuela e Bolívia. Em minha simplicidade, acredito que as riquezas
de um país deveriam servir ao povo desse país.
Alguém disse que é possível conhecer o caráter de um homem a partir dos
inimigos que ele tem. Aplicando esse critério ao nosso presidente (seja quem
for), e considerando que os vencidos hoje serão, logicamente, os seus
adversários (inimigos políticos), não me sinto nem um pouco animado em
posicionar-me ferozmente em sua defesa, como os valentes de Davi fizeram por
seu rei.
Claro, há coisas boas. O controle da inflação e o investimento de programas
sociais são ganhos inegáveis. O pouco que estudei sobre Filosofia Política me
fez entender que um presidente deveria ser punido se não domasse a inflação,
pois ela corrói nosso patrimônio, fazendo nossas economias irem pelo ralo. O
investimento no social, garantindo uma distribuição de renda, no mínimo,
razoável, também é parte das atribuições do mandatário maior de um Estado.
Logo, não é herói o presidente que controla a inflação ou promove o bem estar
social. É apenas alguém que fez o que dele se esperava.
Enfim, está feito. Temos um/a novo/a presidente. O que fazer, então?
Obedecer a Deus, orando pelo eleito de hoje, cumprindo nossos deveres de
cidadãos e fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para vivermos bem e em
paz, jamais esquecendo que “o amor é o
vínculo da perfeição” (Cl. 3.14).
Rev. Renato Arbués.