Diferenças fazem parte do universo que habitamos. Os países são diferentes,
suas culturas, faunas e floras são diferentes. As pessoas são diferentes. Com a
diferença vem a separação. Os países são separados por fronteiras naturais,
linguísticas, culturais. As pessoas se separam por ideologias, religiões e
costumes. Enfim, não seríamos quem somos se não fôssemos diferentes.
Na igreja, que é a reunião de todos os que são chamados para a santidade, a
diferença também se manifesta. Embora na ekklesia
o papel da diferença não seja separar, mas permitir que as pessoas se completem
umas com as outras, o que temos visto ao longo da história é que o corpo de
Cristo muitas vezes tem se fragmentado em divisões espúrias e desonrosas.
No século II, os gnósticos, os judaizantes e os montanistas foram os
grandes perturbadores da paz. A Igreja precisou combatê-los ferozmente. Os
gnósticos ensinavam que algumas pessoas (eles) recebiam revelações especiais de
Deus, revelações a que nem os escritores bíblicos tiveram acesso. Os
montanistas eram chamados de os partidários da “Nova Revelação” ou “Nova
Profecia”. Diziam falar línguas estranhas, afirmavam possuir diversos dons
(você já viu esse filme, né?), expulsavam demônios, proibiam casamentos e relações
sexuais e incentivavam jejuns rigorosíssimos. Novamente, a Igreja teve de ser
dura com esse pessoal, provocando o que para alguns historiadores eclesiásticos
foi o primeiro cisma organizacional dentro do cristianismo. Os últimos, os
judaizantes, queriam que os cristãos guardassem os sábados, fossem
circuncidados etc, etc, etc. Outra briga feia.
Em 1054, a Igreja entra numa nova divisão, provocada pela diferença de
visão entre o mundo ocidental e o oriental. Foi desse rompimento que surgiu a
Igreja Cristã Ortodoxa (Oriental).
E a Reforma? Outro cisma. E na Reforma? Lutero e Zwínglio deram origens a
movimentos distintos porque os dois não concordavam na interpretação da Santa
Ceia do Senhor. O primeiro dizia que o fiel “comia” o próprio corpo de Cristo juntamente com o pão
(consubstanciação), enquanto o segundo ensinava que a prensença de Cristo
apesar de real era espiritual, não física.
Menos de um século depois da Reforma, nos Sínodos de Dort, na Holanda, em
1618-1619, vemos a Igreja Protestante se separando mais uma vez devido a
diferenças entre o pensamento calvinista e o arminiano. Os efeitos dessa briga
perduram até hoje, grosso modo, tendo de um lado as igrejas presbiterianas, de
tradição calvinista, e igrejas batistas e pentecostais (no Brasil,
principalmente) representando a visão arminiana. Isso não quer dizer que você
não encontrará presbiterianos que sejam arminianos e/ou batistas calvinistas. Vai,
e muito.
Enfim, como vimos, o povo de Deus não é imune às diferenças que surgem
entre eles. Pelo contrário, brigam e se apegam às suas opiniões, sendo
conduzidos, muitas vezes, mais pela paixão do que pela racionalidade dos
argumentos.
Nos nossos dias, as diferenças continuam separando os filhos de Deus. Mas,
honestamente, duvido que um dia alguém tenha coragem de mencionar as brigas de
hoje, sobretudo, as que são provocadas por paixão a Dilma ou Aécio.
Que pena!
Rev. Renato Arbués.
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