O título remete ao apóstolo Paulo
em Atenas. Enquanto esperava por Silas e Timóteo, dissertava na sinagoga e na
praça todos os dias. Além de judeus e gentios piedosos, na platéia de Paulo encontravam-se
também filósofos epicureus (buscavam prazeres moderados) e estóicos (propunham
viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselhavam a indiferença em
relação a tudo o que é externo ao ser). Estes últimos levaram o apóstolo até o
Areópago (Colina de Ares), um antigo tribunal, repleto de imagens de deuses. O
texto bíblico relata o desconforto de Paulo ante a idolatria dominante na
cidade (At. 17.16). Até que uma imagem chama a sua atenção.
Era a imagem dedicada ao Deus
desconhecido (At. 17.23). No afã de agradar a todos os deuses, os gregos
decidiram dedicar um monumento a uma possível divindade cujo nome lhes era
desconhecido. Veja você, caro leitor, o zelo do povo que nos legou, entre
outras coisas, a filosofia e a democracia, não lhes permitia ignorar um
elemento vital da constituição humana: a alma.
Alma que anda muito negligenciada
em nossos dias. As pessoas modernas não têm tempo pra essas bobagens de
religião. Estão realizando projetos excelentes, estão construindo um futuro
melhor, futuro este, ressalte-se, que propiciará banda larga de graça, estádios
modernos, tv digital, educação de qualidade... Tudo sem a menor necessidade de
Deus ou da “famigerada” religiosidade.
Já há setores trabalhando nisso.
Veja uma novela, por exemplo. Você sabe qual o segredo de um personagem (às
vezes, a bem da verdade, tem-se que esperar até o último capítulo), qual o
sexo, quais as intenções, quais os amigos, onde mora, como mora, onde trabalha,
quem são os inimigos, enfim, sabe tudo, menos a religião. Porque numa novela
não há espaço para essas coisas de religião.
O apresentador Datena foi
processado pela Associação dos Ateus por declarar que uma pessoa sem Deus é
capaz de matar. Um pastor também foi processado, e condenado, junto com a rede
TV, a indenizar pessoas que se sentiram ofendidas por declarações contra o
ateísmo. Resultado: Ninguém mais pode falar o que nossos avós já diziam sobre
quem não tem Deus. Você sabe bem, mas, tem coragem de dizer bem alto?
E assim vamos vivendo numa
sociedade com tantos deuses e ao mesmo tempo sem deus nenhum. A arte, antes
agente de divulgação das obras divinas, hoje trabalha para destruir ou apagar a
imagem divina de nossas vidas.
E as igrejas? Haveria ainda igrejas
que preservam o culto à divindade? Outro dia ouvi um pastor falar que odiava a
Teologia da Prosperidade. Segundo ele, a Teologia da Prosperidade não oferece
Deus para as pessoas. Na verdade, o que a Teologia da Prosperidade oferece,
oferece ao homem natural. Quem precisa nascer de novo para querer ser rico ou
prosperar? Quem precisa ter um novo coração (no sentido espiritual) para querer
ter saúde? Ninguém. Pois é. Infelizmente, o deus oferecido nas igrejas de hoje
está interessado na demanda do homem moderno, que quer tudo, menos Deus.
Fico pensando se, daqui a alguns
anos, não teremos de erguer um monumento ao Deus que, a cada dia, vai ficando mais
desconhecido.
Rev. Renato Arbués.