Já deve ter acontecido com você. O indivíduo está na sua frente, afirmando
algo que você sabe ser mentira, porém, ele o afirma com tanta veemência que,
por pouco, você não fica convencido da “verdade”. É a hipocrisia se manifestando.
Hipocrisia é fingimento. A palavra foi-nos legada do latim, significando “a
representação de um ator”. Nos tempos dos teatros gregos, “hypocrités” era o
nome das máscaras que os atores usavam de acordo com o papel que representavam.
Por extensão, o termo hipócrita designa uma pessoa que oculta a realidade atrás
de uma máscara de aparência (ver http://lillyessence.blog.com).
Keith Stanovich, cientista cognitivo que fez carreira estudando a
hipocrisia, afirma que “as únicas pessoas que não são hipócritas são a
minúscula e talvez não existente minoria que é tão santa que jamais se entrega
a seus instintos mais básicos.” Para Stanovich, nenhum de nós seria capaz de
cumprir as expectativas que nos são impostas ou tolerar os erros dos outros sem
a possibilidade do fingimento. Assim, continua ele, ser hipócrita é uma
necessidade básica, relacionada à existência do indivíduo. Sem ela, as relações
pessoais seriam impossíveis. Você pode concordar ou não com isso (eu não
concordo), porém, trata-se de uma perspectiva que incomoda e parece ter o peso
da realidade a seu favor.
Como a religião não se dá fora do contexto humano, é natural que a
hipocrisia encontre aconchego entre os que professam uma fé, especialmente,
entre os cristãos. Especialmente, por quê? Porque Jesus Cristo, inúmeras vezes,
alertou-nos contra o perigo da hipocrisia. Na passagem mais clássica, em que o
Mestre aborda esse tema – a parábola do joio e do trigo (Mt. 13.24-29) – Ele
afirma que o cristão autêntico (trigo) e o falso cristão (joio) crescem juntos,
sendo separados apenas no dia da colheira, pelos encarregados da ceifa.
La Rochefoucauld disse que “a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à
virtude”. A ironia esconde o triste fato de que os homens amam o mal e o erro.
Afinal, ninguém precisa fingir ter ódio ou desprezo por uma pessoa, enquanto o
amor e a consideração pelas necessidades alheias exigem um esforço hercúleo de
representação por parte de alguns. Quem nunca “leu” na expressão de um “amigo”
a falsidade, das duas uma: Ou tem amigos perfeitos ou é muito distraído!
Enfim, lidar com a hipocrisia é lidar com o coração, “pois do coração saem
os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os
roubos, os falsos testemunhos e as calúnias” (Mt. 15.19). O homem mais sábio de
todos, Salomão, aconselhou seriamente aos seus leitores: “Acima de tudo, guarde
o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” (Pv. 4.23). Por fim, ainda
citando as Escrituras, veja como orou o salmista: “Sonda-me, ó Deus, e conhece
o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha
conduta algo te ofende, e dirige-me pelo caminho eterno” (Sl. 139. 23-24).
Portanto, caro leitor, a
melhor maneira de lidar com a hipocrisia é cuidando do coração. Do seu coração!
Rev. Renato Arbués.
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