No livro “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”,
de Lima Barreto, o protagonista é traído e morto por sua maior paixão: o
Brasil! Policarpo Quaresma era um patriota, no sentido mais exagerado da
palavra. Ele idolatrava seu país. Idealizava uma era em que sua pátria seria o
centro do mundo. Estudou, trabalhou, juntou recursos, deu a vida para ver
concretizado o seu ideal. O que aconteceu? Ele foi tratado como louco,
ridicularizado, desprezado, enxovalhado, preso e acabou morrendo sem desfrutar
dos dias em que seu país se tornaria o melhor de todos. Coitado. Morreu sem ver
o seu sonho se realizar.
A certa altura da sua vida, um pouco desiludido com o
rumo que as coisas tomavam e já pensando em desistir de tudo, Policarpo
Quaresma travou o seguinte diálogo com um amigo:
“- É bom sonhar. Sonhar consola” - disse Ricardo
Coração dos Outros.
“- Consola, talvez; mas faz-nos também diferentes dos
outros, cava abismo entre os homens” - respondeu o patriota.
Inevitavelmente, eu e você teremos que concordar com
duas premissas desse diálogo: 1º) É bom sonhar - e todos nós sonhamos com
alguma coisa e desejamos tornar reais nossos sonhos; e, 2º) Sonhar nos faz
diferentes - a diferença entre mim e você, e entre você e as demais pessoas, é
o modo como tratamos nossos sonhos. Uns lutam com todas as armas disponíveis
para alcançar seus objetivos; outros, em algum ponto da jornada, desistem. São
derrotados pelas circunstâncias.
Não precisávamos, a bem da verdade, de Policarpo
Quaresma para chegar a essas conclusões. Antes dele, a Bíblia já falava sobre
isso.
Jó, em um de seus momentos de reflexão, avalia a vida
do homem e conclui: “o homem vive breve tempo, e cheio de inquietação” (Jó
14.1). Nossos dias são curtos. Mas nem por isso são tranquilos. São “cheios de
inquietação”.
A princípio, sonhamos com nosso futuro, imaginando
qual será nossa profissão, com quem vamos nos casar, onde viveremos etc. Temos,
assim, um início de vida inquieto. Decisões precisam ser tomadas numa fase em
que a maioria de nós não está preparada pra tanta responsabilidade.
Porém, ao mesmo tempo em que tudo isso nos angustia,
também nos consola. Quando pensamos em como será nosso futuro, na bela casa que
teremos, no bom profissional que nos tornaremos, enfim, esses pensamentos têm o
poder de nos tranqüilizar. Vejam o que disse Salomão: “Nada há melhor para o homem
do que comer, beber e fazer que a sua alma goze (desfrute) o bem do seu
trabalho...” (Ec. 2.24). Sonhar pode consolar!
Entretanto, você já deve ter percebido como as pessoas
têm projetos diferentes umas das outras. Eu, provavelmente, vejo o mundo sob
uma perspectiva distinta da sua, pelo menos em alguma área. É esse fato que
explica certas escolhas diversas que fazemos, os discursos opostos que eu e
você aceitamos. Por isso, sonhar, enquanto consola, também cava abismos entre
os homens.
E qual de nós pode dizer que alcançará todos os seus
sonhos? O sábio rei Salomão disse um dia: “Se é amor ou se é ódio que está à
sua espera, não o sabe o homem. Tudo lhe está oculto no futuro” (Ec. 9.1).
É aqui que os sonhos nos fazem diferentes, cavam abismos entre nós. Uns jamais desistem de seus projetos, embora as circunstâncias da vida lhes sejam contrárias; outros temem tanto as coisas ocultas do futuro que desistem dos seus sonhos em algum trecho da jornada.
É aqui que os sonhos nos fazem diferentes, cavam abismos entre nós. Uns jamais desistem de seus projetos, embora as circunstâncias da vida lhes sejam contrárias; outros temem tanto as coisas ocultas do futuro que desistem dos seus sonhos em algum trecho da jornada.
Que pena! Quantos sonhos lindos foram abandonados pelo
simples receio do desconhecido.
Imagine o que teria acontecido se Lutero tivesse desistido de seu sonho de reformar a Igreja? Se João Calvino, quando fracassou pela primeira vez, abandonasse o sonho de “reformar” Genebra? Se Martin Luther King não acalentasse sonhos de dias melhores (I have a dream).
Imagine o que teria acontecido se Lutero tivesse desistido de seu sonho de reformar a Igreja? Se João Calvino, quando fracassou pela primeira vez, abandonasse o sonho de “reformar” Genebra? Se Martin Luther King não acalentasse sonhos de dias melhores (I have a dream).
A resposta é simples: se esses homens tivessem
desistido de seus sonhos, as coisas boas que eles fizeram jamais teriam chegado
até nós!
E você, o que você faz dos seus sonhos?
Permita-me, mais uma vez, fazer uso das palavras de
Salomão: “Semeiapela manhã a tua semente e à tarde não repouses a mão, porque
não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas igualmente serão
boas” (Ec. 11.6).
Não seja tragado pelo abismo que nos leva a todos!
Rev. Renato Arbués.