Rev. Paulo Brocco

Pregação no culto de encerramento do Presbitério Piratininga.

Batismo da irmã Raimunda Goveia"

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará"!

Fachada da IPC de Bonfim

Rua A Quadra A, nº 48, Casas Populares - Senhor do Bonfim - BA

Igreja em festa: Confraternização

IPC de Senhor do Bonfim em festa.

sábado, 29 de setembro de 2012

O QUE QUEREM OS CRENTES?


             Afinal, o que querem os crentes? A pergunta é “plagiada”. Quando Freud investigou, por assim dizer, as condições de vida e o que exigiam as mulheres, ele questionou: “Afinal, o que querem as mulheres”. Seu questionamento era cheio de ironia e reprimenda. Nossa indagação, frise-se, não é feita com ironia. Talvez com um tom de advertência.

                Voltemos à questão. Se somos crentes, é porque fomos chamados por Deus, regenerados por Seu Santo Espírito, justificados sob a base da justiça de Cristo (bênção apropriada por meio da fé) e, também por meio da obra do Espírito Santo, vivemos em santidade, rumo à perfeição, conforme nos orienta o apóstolo Paulo (Fp. 3).

                Podemos simplificar a resposta. Somos crentes porque Deus quis. É assim que o apóstolo João entendia o fato de alguém servir a Deus. Para João, “nós o (a Deus) amamos, porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo. 4.19).

                Entre a complexidade da primeira resposta e a objetividade da segunda, é possível escolher uma terceira, que abranja as duas e acrescente algo mais. É a resposta que já conhecemos e aceitamos. Também a subscrevemos, se somos cristãos presbiterianos. É a resposta que o Catecismo Maior de Westminster oferece:

Pergunta 1: Qual é o fim principal do homem?
Resposta: O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.

                Você percebeu que a pergunta se refere ao fim (objetivo, finalidade) do homem, independentemente de ele (o homem) aceitar a existência e o senhorio de Deus, ou não. Todo homem precisa ter, como objetivo de vida, render glórias a Deus e desfrutar (gozar) dEle para sempre. Se isso é exigido até mesmo do homem que não conhece a Deus, o que devem fazer os que são feitos “filhos de Deus, a saber, os que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo. 1.12-13)?

                Glorificar a Deus, eis o que os crentes devem querer. Mas, o que é e como conseguir glorificar a Deus?

                O verbo “glorificar”, aparece 13 vezes no hebraico bíblico. Ele é derivado do substantivo “glória”. A palavra descreve “beleza” no sentido de realçar a aparência característica da pessoa. Portanto, glorificar a Deus é ressaltar, num mundo imundo, a dignidade do Senhor nosso Deus.

                Para isso, precisamos saber quais as características da pessoa a quem vamos glorificar. Quem é o nosso Deus?

                A primeira afirmação bíblica acerca de Deus é a de que “no princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn. 1.1). E, quando a obra criadora é finalizada, o texto sagrado afirma o seguinte: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn. 1.31). Descobrimos, então, que nosso Deus além de poderoso, é caprichoso. Quando Ele decidiu fazer algo, Ele fez muito bem feito.

                E será dessa forma que o filho de Deus irá glorificar o Seu Nome. O cristão deve mostrar ao mundo, e a si mesmo, que há algo a ser feito, e que precisa ser muito bem feito para a glória de Deus. Salomão compreendeu isso. Ele escreveu: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças...” (Ec. 9.10).

                Meu irmão, cada uma das pessoas amadas por Deus, recebe dEle uma comissão, uma obra, um serviço, um ministério. Chame como quiser. E para a execução desse serviço, Deus também outorga os talentos, as habilidades necessárias. Paulo ensina: “E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens” (Ef. 4.7-8).

                Por essa razão, há dois tipos de pessoas que não têm lugar no Reino de Deus: os inúteis (os que não fazem nada) e os incompetentes (os que fazem mal feito). Os primeiros (os inúteis) são transformados pelo Espírito Santo e passam a produzir frutos vistosos, maravilhosos e profícuos. Quando aos últimos (os incompetentes), o mesmo Deus os aperfeiçoa, de maneira que são capazes das maiores realizações na força do Santo Espírito.

                Eu não sei pra que tipo de missão você foi chamado. Eu sei que, se você é crente, algum tipo de vocação, e as habilidades para desenvolvê-la, você, meu irmão, possui. Não permita que as ocupações com este mundo impeçam você de glorificar o nome de Deus. Você é crente para isso!

                A Bíblia também diz que Deus “não é homem para mentir” (Nm. 23.19). Logo, todo o que pretende glorificar a Deus, realçando Suas características, deve ouvir o ensino de Paulo: “Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros” (Ef. 4.25).

Enfim, se o que os crentes querem é glorificar a Deus, devem fazer isso vivendo de maneira que agradem ao Senhor, manifestando em suas vidas a beleza do Pai das Luzes, a fim de calarmos o nosso adversário.

Reflita bem, cristão. Afinal, como filho de Deus, o que você quer?

Rev. Renato Arbués.



sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Nossa Sagrada Família


Todo mundo já viu um quadro com esse título. José, Maria e Jesus são retratados como símbolos “perfeitos” da Trindade. A harmonia dessa família é um espelho da relação amorosa e íntima existente entre as três pessoas da Trindade.

Como símbolo, não há problema algum em se falar assim. A família, não há dúvida, foi “inspirada” no modelo trinitário. Ela deve ser reprodutora do padrão divino. Um padrão em que há amor, respeito, divisão do trabalho, objetivos comuns, conversas. Várias vezes no Evangelho lemos Jesus dizer que amava o Pai. Em outras ocasiões, Ele dizia que era preciso “ir” para o que o outro Consolador pudesse “vir” (respeito). Também é claro que, na nossa salvação, cada pessoa da Trindade realiza uma “tarefa” distinta (o Pai enviou o Filho; o Filho morreu na cruz; o Espírito aplica a obra redentora na vida do cristão). O objetivo? Ora, salvar o pecador, sim; mas, também, que toda a glória fosse oferecida a Deus. Por fim, desde o relato da Criação, encontramos passagens bíblicas que falam do “conselho”, do “conselho da Sua vontade”. Ora, “conselho” nada mais é do que uma decisão tomada em conjunto.

Assim, parece óbvio que não só a família de José, Maria e Jesus era um tipo da Trindade. A minha família também o é. A sua, idem. As famílias de todos os que serviram e servem a Deus são chamadas para refletir a beleza da relação trinitária. Não por acaso, Deus disse as benditas palavras à família de Abraão: “[...] em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn. 12.3). Que privilégio, pois, termos uma família que represente a Trindade! Que graça maravilhosa a de Deus, em não apenas nos dar o prazer de viver em comunhão, mas de abençoar essa comunhão de tal maneira que outros – que vivem em conflito ou que não têm família – sejam “benditos em nós”.

Tal verdade deveria nos encher de alegria, gratidão e amor a Deus. Ainda mais considerando a situação do mundo que vivemos. Quantos há que não sabem o que significa “viver em família”? Quantos, neste momento em que você lê essas palavras podendo olhar para o lado e ver ser/sua esposo/esposa, abraçar o seu filho, quantos não podem fazer isso porque foram privados da comunhão familiar ou ainda não a puderam experimentar? Quantos estão de coração partido pela dor da perda de um ente querido?

Por isso, pense bem, meu irmão ou minha irmã, pense muito bem em como você vive sua vida familiar. O tempo passa muito rápido. Infelizmente, talvez não alcancemos todas as coisas que almejamos; muitos projetos serão deixados para trás nessa vida. O que parece tão certo e seguro hoje, amanhã pode se tornar “pó e cinza”.

Será que vale a pena “correr tanto atrás do vento” à custa de momentos de comunhão com nossa família? Será que dinheiro, títulos, diplomas, vão nos marcar tanto quanto uma conversa carinhosa com nosso filho?

Certamente, você não se lembra de quantas vezes já foi chamado de senhor ou senhora, de doutor, professor, chefe, patrão ou coisa que o valha ao longo da vida. Não se lembra porque muitas dessas vezes foram meras formalidades, palavras destituídas de sentimentos como carinho e respeito. Porém, nunca se esquecerá daquele momento singular em que seu filho o chamou de “papai ou mamãe” pela primeira vez!

O tempo passa. E você aprenderá de uma maneira muito dolorosa que a nossa sagrada família não dura para sempre. Que as palavras de Jesus – “até que a morte os separe” – também se referem a nós. E, então, quando esse dia chegar, você só terá duas coisas em que se apoiar: na certeza da ressurreição e, portanto do reencontro, e nas lembranças dos bons momentos vividos.

Pense nisso!

Rev. Renato Arbués.


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Aos incautos navegantes...

Incauto navegante! Segundo o Aurélio, incauto é um sujeito “imprudente, ingênuo”. Péssimas qualidades para um navegante. No hinário Novo Cântico, este hino é o de número 308 e é vinculado ao nome de Sarah Poulton Kalley. Considerando que essa senhora viveu de 1825 a 1907, fica ainda mais forte a força da expressão “incauto navegante”. Imagine uma viagem de barco cujo comandante fosse um sujeito reconhecidamente imprudente!

Ler essas palavras remete o pensamento quase que instantaneamente aos versos do conhecido poema de Fernando Pessoa: “Navegar é preciso; viver não é preciso”. Os historiadores nos lembram que, na verdade, essa frase foi dita pelo general romano Pompeu (106-48 a. C.) aos marinheiros que, amedrontados, se recusavam a viajar. “Navigare necesse; vivere non est necesse”, num latim caipira.

No hino de Sarah Kalley, a vida é descrita como cheia de tormentas. Os navegantes incautos são os homens que vivem sem considerarem o rumo para onde vão nem os perigos a que estão submetidos. A qualquer momento o barco da vida pode topar com um iceberg (lembra do Titanic?) ou com outro barco e afundar; ou, quem sabe, deparar-se com piratas, ou enfrentar uma tempestade e virar. Enfim, viver é algo perigoso, sobretudo se não temos uma boa bússola para nos mostrar a direção e o caminho mais seguro.

Na poesia de Fernando Pessoa, há quem diga que o “preciso” da frase deve ser entendido como “necessário”. Assim, o que importa não é viver, mas como viver! É preciso correr riscos, aventurar-se no bravio mar. Se a vida corre perigo, paciência! Afinal, viver não é necessário mesmo. Contudo, outros intérpretes dizem que no famoso verso, o sentido de “preciso” não é o de necessário, mas o de “exatidão, precisão”. Navegar, então, é algo mais seguro do que viver, pois na navegação dispomos de bússolas, astrolábio (esse é antigo!), computadores, mapas etc. Eu também, modestamente, acho que o “preciso” do poema tem o sentido de exatidão.

Bom, mas o que importa realmente pra esta pastoral é dizer pra você, leitor, que, se você for um navegante incauto, cuidado! São muitas as tormentas que podem naufragar levar o seu “barco” para o fundo do mar: a violência urbana, os males da alma, as doenças, o trânsito... Mas, o maior perigo a que você está exposto é o “das trevas do pecado”. Esse, além de fazê-lo naufragar, pode mandá-lo para uma fornalha bem quente, que consumirá lentamente toda a velha madeira de seu barquinho.

E se você, leitor, não for um viajante incauto, devo lembrá-lo do nosso dever: “resplandeçam nossas luzes através do escuro mar, pois nas trevas do pecado, almas podem naufragar!”. Pregue a Palavra. Seja luz. Salve os incautos que vivem com você. Não seja desobediente à ordem divina: “Sê tu uma bênção”.

Pense nisso!

Rev. Renato Arbués.

domingo, 23 de setembro de 2012

A ARTE COMO REFÚGIO

A arte é um excelente refúgio. Nela, além da beleza, encontramos alento para as ansiedades e a agitação, constantes em nossa maneira de viver. Quem não se acalma ouvindo uma bela melodia clássica? Quem não viaja ao admirar um belo quadro? Enfim, a arte - todo tipo de boa arte – é um presente do bom Deus para a humanidade.

Na arte encontramos temas para reflexão também. A arte, embora não precise ter essa finalidade como principal função, pode transmitir valores morais, pode discutir temas complexos e atuais e, assim, servir-nos de consciência crítica. Para ficar num exemplo, cito o título de uma canção de Tom Jobim e Vinícius de Moraes: “Se todos fossem iguais a você”.  Conhece? Se não, aqui vai um trecho da letra:

Se todos fossem iguais a você
Que maravilha viver
Uma canção pelo ar [...]
Existiria a verdade,
Verdade que ninguém vê
Se todos fossem no mundo iguais a você”.

Ler essas palavras produz um efeito paradoxal em mim. De um lado, a admiração pela poesia, pelo capricho na escolha das palavras, pela simplicidade que diz muito, enfim, admiração pelo gênio do artista. Por outro lado, numa leitura mais objetiva, menos idealizada, surge a inquietação: “Se todos fossem iguais a mim seria uma maravilha viver?”.

Nós todos queremos viver bem. Queremos paz, trabalho, segurança, descanso, entre outras coisas. Para conseguir esse objetivo é que nos relacionamos com outras pessoas o tempo todo, no trabalho, em casa, na igreja, na escola, na rua. E aí nasce uma interrogação gigantesca: “Se todos nós queremos viver bem, se todos procuram os mesmos objetivos, por que, então, vivemos tão mal?”

Porque as pessoas são diferentes. Porque a minha idéia de felicidade diverge da sua. Porque sua maneira de analisar os fatos é diferente da minha. Porque vemos o mundo com “óculos” distintos. Às vezes andamos na mesma estrada esperando atingir destinos diferentes; outras vezes, trilhamos caminhos opostos e esperamos chegar no mesmo lugar. Impossível, não? Então é isso. Nossa vida não é uma maravilha porque somos diferentes.

Mas, e esse “mas” não tem intenção nenhuma de ser chato, se todos no mundo fossem iguais a você? É isso mesmo, e se todas as pessoas do mundo acordassem sendo iguaizinhas a você? Viveríamos maravilhosamente bem? O mundo seria melhor? Ou não?

Imagine se na hora do almoço todas as pessoas comessem como você come. Pense em como seria nosso trânsito se todos dirigissem da mesma forma que você dirige. Você é tímido? Imagine um mundo só de pessoas tímidas? Você fala alto? Imagine uma reunião em que todas as pessoas gritassem o tempo todo? Você é autoritário? Imagine um debate eleitoral em que todos – candidatos e eleitores – defendessem suas idéias e opções do mesmo jeito que você faz. Você é simpático e sorridente? Imagine um jogo de futebol em que os jogadores conversassem mais ou menos assim:

- Por gentileza, poderia tocar a bola pra mim?
- Naturalmente. Assim que conseguir driblar meu oponente e, claro, pedir a ele que não se ofenda com meu drible, passarei a bola para você, meu amigão!

Você conseguiria viver num mundo cheio de você?

Conceda-me o direito à franqueza: É claro que não seria um mundo maravilhoso. Não por todo o mundo ser igual a você, não é isso. É que, na verdade, para sermos felizes, nós precisamos do outro. E precisamos que outro seja diferente para nos completar. Para preencher o que falta em nós. Para corrigir nossos erros ou para ser corrigido. Precisamos do diferente para sermos atraídos por ele; precisamos do outro até para tentar explicar a razão dessa diferença. Enfim, precisamos do outro para vivermos maravilhosamente bem.

Só me resta, desconfortavelmente, pedir desculpa ao poeta – ou à sua memória – por discordar da sua canção. Se todos no mundo fossem iguais a você, o mundo não seria maravilhoso, seria tedioso. Mas que a canção é bonita, ah, isso é!

É maravilhosa essa tal de arte, não?

Rev. Renato Arbués.


sábado, 22 de setembro de 2012

O QUE PODE ACONTECER QUANDO SE DORME DEMAIS!


Cena 1: O operário acorda às 6h30. Atrasado, não consegue tomar o café da manhã. Sai correndo na direção do ponto de ônibus. Demora 1h até chegar ao edifício que ajuda a construir. Como está trabalhando no regime de “turnão”, pega direto das 8h às 14h, sem pausa para o almoço. Do trabalho, vai ao banco, pagar umas contas. Muita gente, fila longa, demora, atraso. Ônibus lotado, congestionamento, chuva. Tudo o que ele quer é chegar logo a sua casa, tomar um banho e, enfim, jantar. Está faminto. Finalmente, às 19h, consegue tomar um longo banho, trocar-se e sentar-se à frente da TV para acompanhar as notícias do dia. 20h. A esposa anuncia o jantar. O homem se levanta rapidamente, puxa uma cadeira, segura os talheres, faz uma rápida oração e olha com fúria para a comida, como quem vai devorá-la em menos de 15 segundos. 30 minutos depois, a esposa volta e, surpresa, vê o prato intacto: O marido nem tocou na comida. O que aconteceu? Nada, de tão cansado, ele dormiu.

Cena 2: Era o grande amor da vida dele. Desde criança, era apaixonada por ela. A menina mais linda da rua se tornou a mais linda da escola e, depois, a mais linda do mundo. Seu grande amor. Finalmente, depois de anos, ele conseguiu marcar um encontro. No dia combinado, um sábado, ao voltar do trabalho por volta das 14h, almoçou em um segundo. Tirou o carro da garagem, separou todo o material que precisaria: Flanela, shampoo para carro, “pretinho”, querosene, aspirador de pó, pasta para encerar, jornal. Levou quase três horas para deixar a máquina no ponto. Hora de tomar banho. 40 minutos depois, a escolha da roupa. Nessa tarefa, ele demorou infinitos 30 minutos. Entre vestir, se olhar no espelho, trocar a camisa ou a calça, ajeitar o cabelo e decidir-se pelo perfume, lá se foi mais uma hora. O relógio já marcava 19h45. O encontro se daria às 20h30. A ideia era um jantar romântico, depois um cinema e, se tudo desse certo, o pedido de namoro. 22h, a mãe entra no quarto e vê o filho esparramado na cama. O que aconteceu? Nada, de tão cansado, ele dormiu.

Cena 3: Nada dava certo naquela casa. O pai e a mãe pareciam um israelita e uma palestina. Dos 5 filhos, um estava desempregado. Há 20 anos. Outro estava tentando reconstruir o casamento. O terceiro descobriu um câncer e lutava desesperadamente pela vida. O caçula saiu de casa após envolver-se com drogas. Fazia quase 6 meses que não dava notícias. Temiam pelo pior. A única que podia fazer alguma coisa era a irmã, a quarta filha. Por meio de uma colega de trabalho, ouviu falar de Jesus e quis conhecê-lo. Combinou de ir ao culto no próximo domingo. Se alguém podia ajudar aquela família, certamente, esse alguém chamava-se Jesus, o Filho de Deus. Ela estava convicta de que sua vida seria transformada. A amiga lhe falara que a Palavra de Deus ressuscitava os mortos e tinha poder de modificar a história humana. Tal promessa incendiou seu coração e provocou um sincero desejo de ouvi-la. Enfim, chegou o domingo, 19h30. Oração, cânticos, leitura congregacional, apresentação do grupo de louvor, solo, coral e a mensagem. O pastor naquela noite estava iluminado. Palavra clara, fiel ao texto, objetiva e confortadora. Durante 40 minutos, o Espírito Santo usou o ministro como um porta-voz. Ao final do culto, porém, a menina estava do mesmo jeito que entrou: Sozinha, aflita, desesperada. Nada havia mudado. Parece que só ela aquela noite não fora edificada pela mensagem. O que aconteceu? Nada, de tão casada, ela dormiu.

Rev. Renato Arbués.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

SONHOS: O QUE FAZER COM ELES?

No livro “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, o protagonista é traído e morto por sua maior paixão: o Brasil! Policarpo Quaresma era um patriota, no sentido mais exagerado da palavra. Ele idolatrava seu país. Idealizava uma era em que sua pátria seria o centro do mundo. Estudou, trabalhou, juntou recursos, deu a vida para ver concretizado o seu ideal. O que aconteceu? Ele foi tratado como louco, ridicularizado, desprezado, enxovalhado, preso e acabou morrendo sem desfrutar dos dias em que seu país se tornaria o melhor de todos. Coitado. Morreu sem ver o seu sonho se realizar.
A certa altura da sua vida, um pouco desiludido com o rumo que as coisas tomavam e já pensando em desistir de tudo, Policarpo Quaresma travou o seguinte diálogo com um amigo:
- É bom sonhar. Sonhar consola” - disse Ricardo Coração dos Outros.
- Consola, talvez; mas faz-nos também diferentes dos outros, cava abismo entre os homens” - respondeu o patriota.
Inevitavelmente, eu e você teremos que concordar com duas premissas desse diálogo: 1º) É bom sonhar - e todos nós sonhamos com alguma coisa e desejamos tornar reais nossos sonhos; e, 2º) Sonhar nos faz diferentes - a diferença entre mim e você, e entre você e as pessoas, é o modo como tratamos nossos sonhos. Uns lutam com todas as armas disponíveis para alcançar seus objetivos; outros, em algum ponto da jornada, desistem. São derrotados pelas circunstâncias.
Não precisávamos, a bem da verdade, de Policarpo Quaresma para chegar a essas conclusões. Antes dele, a Bíblia já falava sobre isso.
Jó, em um de seus momentos de reflexão, avalia a vida do homem e conclui: “O homem vive breve tempo, e cheio de inquietação” (Jó 14.1). Nossos dias são curtos. Mas nem por isso são tranqüilos. São “cheios de inquietação”.
A princípio, sonhamos com nosso futuro, imaginando qual será nossa profissão, com quem vamos nos casar, onde viveremos etc. Temos, assim, um início de vida inquieto. Decisões precisam ser tomadas numa fase em que a maioria de nós não está preparada pra tanta responsabilidade.
Porém, ao mesmo tempo em que tudo isso nos angustia, também nos consola. Quando pensamos em como será nosso futuro, na bela casa que teremos, no bom profissional que nos tornaremos, enfim, esses pensamentos têm o poder de nos tranqüilizar. Vejam o que disse Salomão: “Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze (desfrute) o bem do seu trabalho...” (Ec. 2.24). Sonhar pode consolar!
Entretanto, você já deve ter percebido como as pessoas têm projetos diferentes umas das outras. Eu, provavelmente, vejo o mundo sob uma perspectiva distinta da sua, pelo menos em alguma área. É esse fato que explica certas escolhas diversas que fazemos, os discursos opostos que eu e você aceitamos. Por isso, sonhar, enquanto consola, também cava abismos entre os homens.
E qual de nós pode dizer que alcançará todos os seus sonhos? O sábio rei Salomão disse um dia: “Se é amor ou se é ódio que está à sua espera, não o sabe o homem. Tudo lhe está oculto no futuro” (Ec. 9.1).
É aqui que os sonhos nos fazem diferentes, cavam abismos entre nós. Uns jamais desistem de seus projetos, embora as circunstâncias da vida lhes sejam contrárias; outros temem tanto as coisas ocultas do futuro que desistem dos seus sonhos em algum trecho da jornada.
Que pena! Quantos sonhos lindos foram abandonados pelo simples receio do desconhecido.
Imagine o que teria acontecido se Lutero tivesse desistido de seu sonho de reformar a Igreja? Se João Calvino, quando fracassou pela primeira vez, abandonasse o sonho de “reformar” Genebra? Se Martin Luther King não acalentasse sonhos de dias melhores (I have a dream).
A resposta é simples: se esses homens tivessem desistido de seus sonhos, as coisas boas que eles fizeram jamais teriam chegado até nós!
E você, o que você faz dos seus sonhos?
Permita-me, mais uma vez, fazer uso das palavras de Salomão: “Semearei pela manhã a tua semente e à tarde não repouses a mão, porque não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas igualmente serão boas” (Ec. 11.6).
Não seja tragado pelo abismo que nos leva a todos!

Rev. Renato Arbués.

sábado, 8 de setembro de 2012

Ídolos e Idolatria


Há duas semanas, morreu Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua. Apesar do feito extraordinário, sabe-se que Armstrong era um homem modesto, avesso aos holofotes. Não gostava de aparecer em público, não dava autógrafos, detestava ser visto como herói. Para ele, o que fizera era parte de seu dever como oficial das forças aéreas americanas. Viveu assim, morreu do mesmo jeito.

Foi difícil para Armstrong ter sua vontade respeitada. Pagou um preço alto, o de ser considerado arrogante e prepotente. Se era, não sabemos. O que sabemos é que ele desejou intensamente o anonimato. Não conseguiu.

Neste ano, finalmente, depois de mais de 100 anos, o Corinthians ganhou um título. Internacional, claro. Milhares de pessoas choraram, gritaram, se emocionaram. Nas ruas, o que mais se ouvia eram frases de um idioma particular, da mesma família que o português: “Vai Curíntias”, “É nóis”, “Aí, Japão,  nóis tá aí em dezembro, mano”.

No meio de tanta euforia, chamou a atenção o tratamento dedicado ao jogador que fez os dois gols que deram o título ao time. "Iluminado”, “Guerreiro”, “Decisivo”, “Gênio”. E, quando chegou a vez do herói comentar a sua contribuição, foi modesto: “Fiz o meu. Toda a equipe ajudou.” O sorriso e a expressão desmentiam a humildade declarada.

Anos 2000. Depois de muito tentar, Luís Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil. Segundo ele, recebeu uma “herança maldita” de Fernando Henrique Cardoso. Mas, conseguiu êxito na condução da política econômica, avançou – e muito – nas questões sociais e, quando deixou o governo, bateu o recorde de popularidade.

Dono de um carisma inigualável, aceitava de muito bom grado todos elogios. Quando não os tinha, sabia exatamente de quem era a culpa: dos preconceituosos, da elite conservadora, dos ricos. Não por acaso, seus discursos normalmente começavam assim: “Nunca na história desse país...” E lá vinha algum feito que só ele foi capaz de realizar.

Enfim, parece que os homens podem ser divididos em dois grandes grupos: ídolos e idólatras. Como seres humanos, precisamos ficar sempre alertas contra a tentação de construirmos ídolos e adorá-los ou, pior, de nos tornarmos ídolos e sermos adorados por supostas qualidades que manifestamos.

Contra isso, Tiago escreveu: “Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras” (Tg. 3.13). A humildade cristã está na mansidão de sabedoria, no usar as virtudes doadas por Deus de forma a engrandecê-lO, a abençoar o próximo, a divulgar a mensagem real aos perdidos.

O antídoto contra a idolatria é um condigno proceder. Condigno significa proporcional ao mérito. Que méritos temos, a não ser os que nos são dados pela graça divina? “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?” (1 Co. 4.6).

Cuidado com a vaidade. Foge da idolatria. Ama o Senhor Deus e faze o bem. Com humildade.

Rev. Renato Arbués.