Rev. Paulo Brocco

Pregação no culto de encerramento do Presbitério Piratininga.

Batismo da irmã Raimunda Goveia"

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará"!

Fachada da IPC de Bonfim

Rua A Quadra A, nº 48, Casas Populares - Senhor do Bonfim - BA

Igreja em festa: Confraternização

IPC de Senhor do Bonfim em festa.

sábado, 29 de novembro de 2008

Reflexão sobre a tragédia em Santa Catarina e o lugar de Deus

“Era como se o mundo estivesse se acabando”, foi assim que uma senhora, sobrevivente da catástrofe de Santa Catarina, relatou a impressão que teve ao fugir desesperada com o barulho do desmoronamento de parte do morro onde ficava a sua casa. Centenas de pessoas descreveram da mesma maneira o drama que passaram nos últimos dias. Famílias perderam tudo o que possuíam, sendo que não poucas choram a perda de vários entes queridos. De tudo que vi e ouvi, a cena mais comovente foi a fala de outra senhora. Ao ser questionada pelo jornalista sobre o que faria, ela respondeu: “Não sei. Não sei como recomeçar. Não sei o que fazer”.

As catástrofes são eventos embaraçosos para qualquer pastor explicar. Elas se apresentam como falhas no roteiro de Deus. É como se algum vírus infestasse o computador que processa a história humana, quebrando a rotina, danificando a ordem aparentemente harmoniosa do convívio homem-natureza. Talvez por isso, as primeiras explicações sejam buscadas nas chamadas “causas naturais”. O que aconteceu? “Basicamente, três fatores causaram essa tragédia: a enorme quantidade de chuva, o tipo de terreno e à imprudência de algumas pessoas que construíram suas casas em áreas de risco. Esses três fatores são responsáveis por tudo que testemunhamos”, essa foi a explicação de um geólogo.

“Ah, então foi isso? Ótimo, vamos organizar as equipes de resgate, os postos de doações, as contas bancárias para depósito de dinheiro, enfim, vamos amenizar o sofrimento dos catarinenses e reconstruir suas moradias”. O conforto que sentimos quando racionalizamos a vida e seus infortúnios permite-nos relativa paz e tranqüilidade. Até que outra catástrofe aconteça.

Houve um tempo em que os desamparados e aflitos costumavam clamar pela misericórdia divina. Os sofredores demonstravam duas atitudes: a primeira era o reconhecimento da presença de Deus em todos os fatos. Eles diziam: “Deus sabe o que faz. Se Ele permitiu que eu enfrentasse tal situação, é porque Ele tem algum propósito”. E em seguida arrematavam: “Tenho fé em Deus! Hei de vencer esse obstáculo”.

Hoje, infelizmente, as pessoas estão perdendo esse referencial. Deus não faz mais parte da vida delas. Não se recorre a Ele nem para explicar nem para superar as adversidades. Salvo raras exceções, a maioria dos homens prefere confiar no próprio esforço, na solidariedade dos semelhantes, na coragem, enfim, viveram tanto tempo olhando para baixo que a musculatura do pescoço já atrofiou e não pode mais olhar para cima. Pouco a pouco, a sensibilidade às obras de Deus está sendo perdida.

“Ouve-se a voz do SENHOR sobre às águas; troveja o Deus da glória; o SENHOR está sobre as muitas águas” (Sl. 29.3). Você ainda se lembrava dessas verdades? O bem e o mal fazem exatamente o que Deus quer. Estão ambos a serviço da glória do Senhor do universo. Não há sequer um centímetro onde a majestade de Deus não alcance. Ele governa todos os eventos, sejam ordinários (comuns, rotineiros), sejam catastróficos (enchentes, terremotos...). Ele jamais deixará de exercer o Seu domínio: “O SENHOR preside aos dilúvios; como rei, o SENHOR presidirá para sempre.” (Sl. 29.10).

Os homens foram criados à imagem e semelhança de Deus. Por isso são tão inteligentes. Eles conseguem explicar várias coisas. Pela observação e pelo estudo cuidadoso, entendem certos fenômenos naturais, bem como suas causas e conseqüências. Somos gratos a Deus por ter nos feito assim, inteligentes. Também somos gratos a alguns homens (cientistas, pesquisadores) por dedicarem suas vidas aos estudos e, assim, auxiliar-nos em nossa existência. A medicina, a astronomia, a engenharia e as demais ciências contribuem para que “tenhamos uma vida tranqüila e abençoada”. Contudo, elas jamais poderão ser o objeto de nossa fé. Seremos infelizes e eternamente insatisfeitos se confiarmos apenas nos homens e na sua limitada capacidade de explicação e solução dos problemas.

A sensação estranha que sentimos diante das cenas de destruição que vimos é fruto do amor de Deus em nossos corações. O pecado consegue distorcer e mesmo diminuir muitos dos frutos dessa virtude, porém, “o amor jamais acaba”. Brasileiros de todos os cantos, de todas as classes, de todas as crenças estão unidos em prol da mesma causa: o auxílio aos desamparados de Santa Catarina. É comovente ver homens e mulheres chorando pela situação de pessoas que nunca viram. Nesses momentos, é possível enxergar um pequeno brilho da imagem divina refletida em todos os seres humanos. Um pequeno raio, não mais que isso.

Oremos pelos desabrigados; oremos pelos que perderam parentes e amigos; oremos por nossos compatriotas. Se possível, ajudemos com nossos recursos também. Há vários meios de fazermos doações. “Façamos o bem a todos”, disse-nos o apóstolo Paulo. Porém, jamais nos esqueçamos de que “O SENHOR dá força ao seu povo, o SENHOR abençoa com paz ao seu povo” (Sl. 29.11).

Se a senhora citada no início dessa pastoral acreditasse nessas palavras, certamente ela estaria aflita. Mas, pelo menos, saberia por onde recomeçar!
Rev. Renato Arbués.

domingo, 23 de novembro de 2008

O Poder é meu. Ou seu!

Nos últimos dias, nossa cidade foi agitada com os boatos de que o prefeito eleito, Paulo Machado, poderia perder o mandato. Os motivos, segundo o advogado da outra coligação (em entrevista ao Jornal Canal Aberto, da rádio Caraíba), seriam o uso indevido do programa “Bolsa Família” e o toque do jingle – num período proibido pela Lei Eleitoral – da campanha do PT num evento no distrito de Carrapichel. A decisão da Justiça Eleitoral sairá nos próximos dias.

Nesta pastoral, não discutirei a responsabilidade deste ou daquele. Isso está além de minha competência. Vamos, entretanto, tomar as atitudes dos dois grupos políticos como emblemático do comportamento humano. O que está implícito nessa disputa? O que motiva ambos os lados: um para continuar no poder; outro, para tomá-lo? Ora, a eterna luta pelo poder. Uns lutam para conquistá-lo, enquanto outros o defendem a todo custo. Será o poder algo tão bom assim?

Você, com certeza, conhece o famoso ditado “o poder corrompe”, atribuído por uns a Nicolau Maquiavel; outros, no entanto, juram de pés juntos que o autor foi um tal de Lord Acton. Quem quiser enviar carta com a resposta, sinta-se à vontade. O que há de certo, é que o poder, na maioria das vezes, tanto corrompe quanto revela.

O poder corrompe? Corrompe, você dirá, apenas algumas pessoas. Que tipo de pessoa é corrompida por ele? A Bíblia menciona alguns, entre eles os avarentos. Estes não herdarão o reino dos céus (1 Co. 6.10). A avareza está relacionada ao desejo sórdido e excessivo pelo dinheiro. Poderíamos igualar poder e dinheiro? Trata-se da mesma coisa? Talvez sim, talvez não. Nem todas as pessoas têm como objetivo de vida a riqueza. Há quem deseje o poder pelo amor ao poder, ao status por ele conferido. Nossa sociedade está cheia de gente assim, são as chamadas celebridades.

Se você perguntar o que é ou o que faz uma celebridade, eu direi: “Tá aí uma questão difícil de responder”. Umas só aparecem na televisão, em programas de entretenimento (?), como Big Brother e congêneres. Outros “cantam”, outros dançam. Há os que casam e outros que brigam. Sem falar nos que posam nus. E há os políticos, os secretários, os diretores. Enfim, os poderosos. Ou você acha que poderosos não são celebridades? Eu fico com a definição que ouvi certo dia de alguém de quem não me recordo o nome: “celebridade é quem consome a si mesmo”. Perfeita definição. O que alimenta uma celebridade? Ela mesma, sua imagem, a “admiração” que os “fãs” declaram ter por ela. Pobres celebridades, corrompidas pelo poder e suas conseqüências.

Mas o poder é também revelador. Ele não é apenas o agente deformador de caráter. Por vezes ele é somente a luz lançada nas trevas da personalidade. Um sábio disse: “Quer conhecer uma pessoa? Dê-lhe poder!”. O Zé de ontem, hoje é o Sr. José. Por que a mudança? Exigência dele. Sinal de respeito. O Jão de outrora, uma vez deputado, será o Excelentíssimo Sr. João (com dois “os”). Lembra da Mariinha, aquela de vestido de chita, que vendia bolo? Pois é, “tirou um deploma” e hoje é a Dona Maria das “tantas” (seu sobrenome). Pergunta: O que mudou foi a essência ou a aparência dessas pessoas fictícias?

A contraposição a tudo isso é encontrada nas páginas das Escrituras Sagradas. Lá, os exemplos que temos são de homens e mulheres que tinham tudo para serem reverenciados e adorados pelos demais mortais, mas preferiram a humildade. Homens como João Batista, que ao receber a pergunta almejada por muitos, como a deixa para se vangloriarem, respondeu apenas: “Convém que Ele (Jesus) cresça e que eu diminua” (Jo. 3.30). Graças a Deus, a história das grandes realizações humanas está repleta de personagens secundários, cuja participação nos eventos históricos foi decisiva.

Aliás, o autor de Hebreus, após mencionar alguns nomes de heróis da fé, conclui o parágrafo destacando os gigantes de Deus, “homens dos quais o mundo não era digno” (Hb. 11.38), gente de quem sequer sabemos os nomes, mas que receberam a maior das recompensas: o prazer de Deus.

Tomara que os que disputam o poder de nossa cidade estejam a, pelo menos, meia altura dos homens que realmente fizeram a diferença. Tomara que o poder não corrompa o ganhador - seja quem for - e nem o revele muito diferente do que julgamos.

Deus nos abençoe.
Rev. Renato Arbués.