Rev. Paulo Brocco

Pregação no culto de encerramento do Presbitério Piratininga.

Batismo da irmã Raimunda Goveia"

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará"!

Fachada da IPC de Bonfim

Rua A Quadra A, nº 48, Casas Populares - Senhor do Bonfim - BA

Igreja em festa: Confraternização

IPC de Senhor do Bonfim em festa.

domingo, 27 de outubro de 2013

O COMPLÔ II

Se você acha que o exame das minhas convicções cristãs terminou na reflexão sobre Marx, Nietzsche e Sartre está muito enganado. Há, ainda um outro ponto em que eu quase tropeço: Mitologia. Ouvi tanto que a Bíblia é um relato mitológico, em especial, o da Criação, que, assumo, resolvi aceitar esse ponto-de-vista.

Como fiz antes, decidi examinar mais detidamente a questão. Procurei ajuda, claro. Encontrei-a num artigo de Barboza (Fides Reformata, 2004), intitulado “Gênesis 1.1-2.3: Um texto mítico? Um estudo comparativo de gênero literário”. E o que encontrei?

Em primeiro lugar, definir o que é um mito é uma das tarefas mais divertidas para um filósofo, uma vez que não há consenso entre as escolas sobre esse assunto. A certa altura, lê-se no artigo que o “mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e complementares”. E agora? Que perspectiva devo adotar?

Resolvi começar pelo pensamento dos próprios autores bíblicos. Escolhi dois autores do Novo Testamento, um bem diferente do outro: Paulo, filósofo, erudito; Pedro, pescador, homem simples.

Começando com Paulo, encontrei em 1 Tm. 1.4, a seguinte declaração: “nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço na fé”. De novo em Tt. 1.14: “E não se ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da verdade”.

Em 2 Pedro 1. 16: “Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade”.

Em todos os textos, a expressão destacada “fábulas”, do grego, muthos -  mitos. Não sei se você ficou com a mesma impressão que eu, mas, parece que tanto Paulo quanto Pedro odiavam essas “histórias inventadas”, os tais mitos.

Conheço bem o apóstolo Paulo. Leio trechos de suas cartas desde os meus 10 anos. Tenho 41. Jamais pensei em Paulo como um hipócrita. Seus escritos não sugerem isso, a maneira como as pessoas que lidaram com ele o trataram também não dá brechas a esse tipo de diagnóstico. Ele foi espancado por sua fé, perdeu seu status, não pôde desfrutar da convivência familiar como outras pessoas fizeram, tudo por causa do evangelho. Penso que seja por isso que ele odiava pensar que alguém pudesse dar ouvidos a uma “história inventada”, ao invés da mais pura verdade, verdade pela qual ele daria sua vida.

Pedro é outro velho conhecido. Sua reputação é tão honrosa que há quem o tenha como o “substituto de Cristo”. Diz a tradição que ele foi condenado à crucificação. Peidu para ser crucificado de cabeça para baixo, porque não era digno de morrer como Jesus. Um camarada desses jamais aceitaria que comparassem suas histórias com fábulas criadas pela engenhosidade humana.

Penso que isso seja relevante: Os escritores bíblicos sabiam o que era mito e o que era verdade. Abominaram o primeiro e exaltaram a segunda. Aliás, morreram pela verdade. Não posso ignorar isso.

Seja o que um mito for, os escritores bíblicos sabiam que eram histórias bem diferentes das histórias bíblicas.

Continua.

Rev. Renato Arbués.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O COMPLÔ I

Estive pensando a respeito de minha fé. Penso que todo homem, ao menos uma vez na vida, deveria examinar a base de suas convicções e, se preciso, substituí-las, ou confirmá-las definitivamente. Estive pensando sobre meu cristianismo. E resolvi aceitar que fui vítima de um complô.

O dicionário Houaiss define complô como “trama secreta combinada entre diversos indivíduos contra uma autoridade, um personagem público, uma instituição”. Como não sou autoridade nem personagem pública, fico com a segunda acepção do mesmo dicionário, que retrata um complô como “qualquer projeto tramado secretamente entre duas ou mais pessoas”.

Assim, decidi pensar que mentiram pra mim. Cristo não é o Filho de Deus, não morreu numa cruz para me salvar, não ressuscitou. Ele foi, na verdade, um bom judeu, cumpridor de seus deveres e que apresentou uma nova interpretação da Lei, pautada no amor a Deus e ao próximo como bens supremos.

Fiquei aliviado. Agora, certamente, seria aceito entre os intelectuais e os caras mais bacanas que há no mundo. Tanto tempo vítima de superstições de judeus que acabei perdendo o bom senso e a inteligência. Chega. A partir de agora, serei livre. Serei como Marx, Nietzsche, Sartre.

Depois da euforia de me sentir livre do erro, resolvi analisar meu novo estado. Comecei pelos meus novos heróis: Marx, Nietzsche e Sartre.

Marx era sustentado por Engels. Na maior parte do tempo, não obteve êxito com seus escritos. Passou fome, foi despejado algumas vezes. Honestamente, penso que não vale a pena defender uma ideia que fará de mim um parasita. Desisti desse herói.

Nietzsche, o professor mais famoso de toda a Europa, morreu babando, preso num quarto, dizendo-se ora Cristo, ora o Anticristo. Sua irmã chegou ao ponto de cobrar ingresso para quem quisesse vê-lo. Esse dinheiro ajudava no tratamento e sustento do meu ex-herói.

Sartre era homem fino. Amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Taí um cara que vale a pena seguir! Mas, seguir pra onde? Ele mesmo dizia que não sabia para onde ia, que seu caminho era construído enquanto caminhava! “Casado” com uma filósofa, mantinha um relacionamento aberto, em que ambos tinham amantes. Como dizem os baianos, “não dá pra mim, não!” Caí fora.

Então, meu amigo, fiquei num mato sem cachorro. Desisti da minha fé por causa de grandes homens que, na verdade, de grande não tinham nada! Mas, se eles não eram ninguém, certamente, os inventores do cristianismo também não haveriam de ser.

Mateus, cobrador de impostos de segunda categoria. Marcos, discípulo de Pedro, e só. Lucas, médico, pesquisador. Esses três criaram os evangelhos. Dá pra confiar? Eles criaram um personagem fictício, atribuíram a ele diversos ensinamentos, deram-lhe uma família, um nome e inventaram que realizava milagres, incluindo ressurreição de mortos. Quanta bobagem!

Como fiz antes, fui analisar a vida desses caras. Como você sabe, criar um personagem não é fácil. Torná-lo conhecido, então, é difícil. Fazer as pessoas se identificarem com ele é muito raro. Levar leitores a manterem uma relação pessoal com um personagem a ponto de morrer por ele, impossível! Aí, a pulga que vive na minha orelha me incomodou. “Como um cobrador de impostos, um médico e um discípulo de alguém foram capazes da proeza de inventarem um personagem tão fascinante como Jesus?” Como fizeram isso? Dois mil anos e nunca foram contestados definitivamente! Ninguém provou que estavam errados, que Jesus não existiu, que tudo era uma farsa. Ao invés disso, o personagem que eles “criaram” mudou a vida de pessos simples e de reis, de nações ricas e pobres. Livrou viciados, restaurou famílias, consolou aflitos, amparou necessitados, acolheu os desamparados.

Então, comecei a ter dúvida sobre quem, de fato, estava promovendo um complô.

Continua!

Rev. Renato Arbués.