“O Brasil está
de luto”, essa frase foi dita em tom dramático pela presidente Dilma Roussef,
assim que soube da tragédia ocorrida na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do
Sul. Numa boate repleta de estudantes universitários, um incêndio destruiu a
vida de 236 jovens, deixando outros tantos feridos em estado grave.
Muitas perguntas
sem respostas. O que aconteceu? Como o incêndio começou? Quem é responsável?
Por que não havia saídas de emergência? Quem permitiu aquela lotação?
Mas, uma
pergunta insistiu em nos atormentar. Não se trata de uma pergunta original.
Sempre que há uma tragédia, alguém a propõe. A pergunta é: “Onde Deus estava naquele momento?” Na verdade, o que se quer saber
é: “Por que Deus não impediu que a
tragédia acontecesse?”
Deus não precisa
de advogados de defesa. E, se precisasse, certamente não me escolheria para tal
função. No entanto, creio que podemos, com a orientação da Bíblia, tecer alguns
comentários sobre essa tragédia e o papel de Deus na história humana.
Em primeiro
lugar, precisamos compreender algo muito valioso ao falarmos de Deus. Ele diz
em Ez. 33.11 que não tem prazer na morte do ímpio. Eis as Suas palavras: “Dize-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o
SENHOR Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta
do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos;
pois por que haveis de morrer, ó casa de Israel?”
Pra quem não
está muito familiarizado com a linguagem da Bíblia, um esclarecimento. O
adjetivo “ímpio” é o mesmo que “incrédulo”, “aquele que não vive de acordo com
a vontade de Deus”, ao contrário, conduz a sua vida de acordo com seus desejos
e preferências. Resumidamente, ser ímpio é não temer a Deus, não estudar a
Bíblia, não orientar suas decisões de acordo com a Santa vontade do Senhor.
É muito fácil
concluir que Deus não Se importa com quem não se importa com Ele. Aliás, não
haveria nada de absurdo se Deus simplesmente ignorasse a situação de todos
aqueles que o desprezam. Mas não é isso que Ele faz. Ele diz que não sente
prazer quando um ser humano morre, seja esse ser humano crente ou não, amando a
Deus ou não.
Portanto, que
isso fique bem claro: Deus não sente prazer quando acontece uma tragédia. Ele
também não fica feliz quando morre uma pessoa apenas. Não importa a quantidade:
Todos os seres humanos foram criados por Deus e são portadores da Sua imagem e
semelhança.
Mas, então, por
que Ele não evitou que o acidente acontecesse? Essa pergunta exige uma reflexão
séria, respeitosa e humilde. Nossa regra de conduta é a vontade revelada de
Deus. Aquilo que Ele falou por meio dos profetas e apóstolos, nós podemos
falar. Aquilo que Ele não revelou, pertence a Ele somente.
Assim, com base
no que sabemos da natureza de Deus, tal qual revelada nas Escrituras, podemos
refletir algumas coisas:
Deus não tem
prazer na morte de ninguém, porém, ainda assim, as pessoas morrem. E não
importa quais pessoas: tementes a Deus ou não, um dia, todos morrem. Homens
morrem, mulheres morrem, velhos morrem, crianças morrem, jovens morrem. Vale
lembrar que o próprio Filho de Deus morreu. E morreu tragicamente, pendurado
numa cruz, nu e humilhado.
Isso significa
que Deus não Se obrigou a proibir as coisas que Ele não gosta. Ele não tem
prazer na morte dos humanos, mas os humanos morrem. Deus não tem prazer na
mentira, mas tolera a mentira dos homens. Deus não tem prazer na inveja, mas
permite que nós sejamos, em alguns momentos da vida, invejosos. Deus não se
agrada da violência, mas os homens são violentos. Deus não tem prazer na traição,
mas as pessoas são infiéis todos os dias.
Ou seja, Deus
não é um Ser tirano, que controla as pessoas como marionetes. Não. Aliás,
nenhum homem gosta de pensar em um Deus assim!
Como
presbiteriano, eu creio que todas as coisas acontecem de acordo com a vontade
de Deus. Ele é soberano sobre todas as coisas. Mas, ao defender essa minha
crença diante de outras pessoas, sou logo retrucado: Mas, como Deus pode
determinar todas as coisas? Não, o homem é livre e tem livre-arbítrio.
Respeito as
opiniões diferentes da minha. Embora não consiga entendê-las. Acho curioso que
o mesmo homem que se recusa a aceitar que Deus dirija a sua vida, é o mesmo
homem que obrigue Deus a livrá-lo das consequências de suas escolhas. Funciona
assim: Eu faço o que eu quero, sem considerar a vontade de Deus. Mas, toda vez
que eu tiver em perigo, Deus tem a obrigação de me livrar, senão Ele não é
Deus! Você, caro ouvinte, consegue entender isso?
Na verdade,
somos pequenos demais para entender as coisas que Deus faz ou as coisas que Ele
não faz. Num momento de dor como esse, não é hora de pensamos sobre o porque
disso ou daquilo. Creio que o deveríamos fazer era buscar em Deus a única coisa
que realmente pode ajudar aqueles pais que estão tristemente feridos, a saber, pedir
o consolo de Deus.
A Bíblia diz
assim em 2 Coríntios 1.3-4: “Bendito seja
o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de
toda consolação! É Ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para
podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com
que nós mesmos somos contemplados por Deus”.
A morte chega a
todos nós. Bons ou maus, ricos ou pobres, altos ou baixos. Todos morrem. Por
isso, temos a necessidade de fazermos boas escolhas na vida. Escolher amar a
Deus, amar as pessoas, viver bem com a família, fazer o bem.
No final de
tudo, não levaremos nada para o outro mundo. Tragédias acontecem numa boate ou
numa Igreja. Bendito seja Deus que nos livrou até agora de todo mal. E que esse
mesmo Deus continue a nos livrar. Porém, se tivermos de passar por momentos
difíceis, que Ele nos dê todo o consolo necessário. Assim como certamente Ele
está consolando os familiares e amigos dos 235 jovens mortos no Rio Grande do
Sul.
Rev. Renato Arbués.