Rev. Paulo Brocco

Pregação no culto de encerramento do Presbitério Piratininga.

Batismo da irmã Raimunda Goveia"

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará"!

Fachada da IPC de Bonfim

Rua A Quadra A, nº 48, Casas Populares - Senhor do Bonfim - BA

Igreja em festa: Confraternização

IPC de Senhor do Bonfim em festa.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Não há lugar!

No livro “As cidades Invisíveis” (Cia. das Letras, 2000), Ítalo Calvino põe em cena Marco Pólo descrevendo para Kublai Khan as cidades que visitou em missões diplomáticas. São cidades, como o título do livro sugere, fictícias. Todas elas têm nomes femininos, mas não se trata de nenhuma crítica às mulheres; antes, o jovem navegador “humaniza” cada cidade de tal forma que é impossível não reconhecer nelas algumas de nossas próprias características ou traços comportamentais.

Uma das cidades é Leônia. Marco Pólo diz que a paixão dos leonianos “é desfrutar coisas novas e diferentes”. A cada manhã eles “vestem roupas novas em folha, tiram latas fechadas do mais recente modelo de geladeira, ouvindo jingles recém-lançados na estação de rádio mais quente do momento”. Durante o relato, Marco Pólo admite não saber se o prazer dos leonianos é desfrutar de coisas novas ou “expelir, descartar, limpar-se de uma impureza recorrente”. Como você deve ter concluído, os arredores de Leônia são um caos. Montanhas de lixo se acumulam e os moradores ficam “ilhados”, pois “uma fortaleza de dejetos indestrutíveis cerca a cidade, dominando-a de todos os lados, como uma cadeia de montanhas”.

O fato é que em Leônia não há lugar para nada. Tudo está cheio. As casas são mobiliadas ao limite. Não podem comprar um só objeto sem que antes não tenham de descartar um outro. É assim também com as pessoas. Em Leônia há um rígido controle de natalidade. As pessoas precisam pedir permissão para terem filhos. Lá também não há lugar para visitantes: onde seriam colocados? E, claro, já era de se esperar, em Leônia também não espaço para os que não podem consumir. Os leonianos não ouvem a mensagem de Marco Pólo de que “à medida que a cidade se renova a cada dia, ela preserva totalmente a si mesma na sua única forma definitiva: o lixo de ontem empilhado sobre o lixo de anteontem e de todos os dias e anos e décadas”.

Essa descrição da cidade fictícia de Leônia, sugere uma reflexão oportuna: Leônia se parece ou não com sua casa, caro ouvinte? Será que você não é, na verdade, é um cidadão leoniano?

O Natal é uma ótima época para respondermos a essas perguntas. Queremos comprar uma TV nova, um sofá novo, roupas novas, bicicletas novas, mas, precisamos mesmo de televisores novos, de sofás novos, de roupas novas, de coisas novas? Precisamos mesmo de tantas “comprinhas para o natal”? O que fazemos com o “que ficou velho” em nossa casa e que até ontem nos servia tão bem? Jogamos fora? Acumulamos?

Algo muito triste também está acontecendo em nossos dias. Assim como os leonianos, estamos nos acostumando a descartar pessoas também! Nossas cidades vivem cercadas não só de montanhas de lixo, mas de montanhas de gente, que empurramos para longe porque não há espaço para todos no mundo consumista, novo, confortável.

Essa é a triste condição de nossos dias, na comemoração do Natal. O Sr. Jesus Cristo, pasmem, também não encontrou lugar em muitas casas. Elas estavam cheias de comida, de presentes, de alegria, de pessoas, que não sobrou lugar para uma manjedoura velha e um menino recém-nascido! Isso não é novidade, afinal, o “aniversariante” principal da semana nasceu no seguinte contexto: “Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, e ela (Maria) deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc. 2.6-7). Pois é, a hospedaria estava tão cheia de pessoas nobres, importantes, fregueses pontuais, que não sobrara lugar para Jesus Cristo!

Meu caro ouvinte, houve lugar para Jesus em sua vida durante este ano? Se não, por quanto tempo você vai permitir que essa situação perdure? Use coisas, ame pessoas. E, mais importante, busque ao SENHOR enquanto se pode achá-lO.

Feliz Natal, próspero ano novo!
E pense nisso.
Rev. Renato Arbués.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

E na crise, fazer o quê?

Há pelo menos três meses os jornais não falam de outra coisa a não ser a tal crise do sistema financeiro. O banco “fulano de tal” quebrou, a montadora X vai fechar as portas, cidadãos americanos perderam suas casas, não há empregos. Os economistas se revezam nas entrevistas para aconselhar-nos, mas o que eles falam, sem falsa modéstia, todos nós já sabíamos: “É preciso ter cautela. Cuidando com as prestações. Os juros são exorbitantes...”. Parece que o mundo vai entrar em concordata, preparando-se para declarar falência.

Por aqui, na terra do “em se plantando tudo dá”, os governantes se comportam como adolescentes. Num dia, o presidente vem a público e diz para gastar: “Tem de gastar mesmo. Com muito dinheiro circulando, evitaremos a recessão, salvaremos os empregos e movimentaremos a economia”. No outro, com o mesmo terno azul e a barba branca de sempre, o conselho, em tom sereno e paternal, é: “Tem que ter um pouquinho de juízo. Não se pode comprar tudo”. No que diz respeito à análise da dimensão da crise, a coisa não é muito diferente, não. O mandatário maior da pátria, no comecinho do problema, disse que a crise chegaria aqui como “um ventinho”, quase uma brisa. Agora já admite que “a coisa tá parecendo uma leve tempestade”. Como assim, leve tempestade? O que é isso? Essa é da mesma lavra do “grite baixo, por favor”.

Independentemente do alcance da crise e dos seus efeitos, há algo de meritório nela. Ela nos faz rever algumas de nossas práticas à luz de nossas teorias. Fica claro que a palavra teoria está sendo usado no lugar de “doutrina”. Pois bem, comecemos com a oração que Jesus nos ensinou. Nela, pedimos que o pão de cada dia seja dada “a cada dia”. Na prática, queremos mais do que pão (alimento). A cada dia gastamos nossos recursos adquirindo pão, cd, roupa, livro, som, brinquedo, jóia, relógio e um montão de coisas que precisamos ou que sequer sabemos para que servem. Mas temos em casa!

E a doutrina da Providência? Ela ensina que Deus vê e cuida de todas as nossas necessidades. Mas como Ele faz isso? Há quem jure que anjos descem do céu e aplicam uma injeção com antibióticos em sua coluna (também pode ser no pé, no braço, na mão), enquanto o pastor (outro, não eu) estava orando! Também crêem que Deus manda anjos depositarem dinheiro nas suas contas bancárias, fechar a boca de cachorro bravo, empurrar carro (“quando a gasolina acabou, ainda andamos cinco quilômetros, oh glória!”), sortear o nome premiado na rifa e coisas afins. Mas é assim que Deus age providencialmente?

Biblicamente, a resposta é não. Deus cuida de nossas necessidades através de nós mesmos. Alguém disse que não devemos orar para que Deus resolva nada, se não estivermos dispostos a fazer parte da resposta divina. A Bíblia está cheia de diretrizes para que ajudemos uns aos outros, para que auxiliemos as viúvas e os órfãos, que deixemos cair espigas de milho para saciar a fome dos desamparados. Contudo, deve-se admitir, com vergonha, que a prática da igreja tem sido outra. Os cristãos têm se tornado egoístas, não demonstrando solidariedade com os carentes. E os crentes ambiciosos? Estão sempre desafiando a Deus, colocando o dedo em Seu rosto (?), exigindo que as “portas do céu sejam abertas” e que tenham prosperidade e saúde, prosperidade e saúde...

O Senhor Jesus disse que devemos nos inquietar com as ansiedades da vida. Ele sabe do que precisamos antes de pedirmos: “Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas” (Mt. 6.31-32). Na teoria, cremos; na prática, vivemos assim?

A crise está aí. É real e é bom que tenhamos prudência. Somos filhos da Luz e, como tais, devemos viver de forma digna da nossa vocação (2 Ts. 1.11). Não precisamos de economistas ou de presidentes, nem de apresentadores nem de conselheiros, para nos ensinar o que aprendemos nas Sagradas Escrituras: Confiar em Deus e viver de forma sóbria, contentar com o que temos recebido, prover aos órfãos e às viúvas e ser gratos a Deus por suprir cada uma de nossas necessidades (Fp. 4.19).
Rev. Renato Arbués.

sábado, 29 de novembro de 2008

Reflexão sobre a tragédia em Santa Catarina e o lugar de Deus

“Era como se o mundo estivesse se acabando”, foi assim que uma senhora, sobrevivente da catástrofe de Santa Catarina, relatou a impressão que teve ao fugir desesperada com o barulho do desmoronamento de parte do morro onde ficava a sua casa. Centenas de pessoas descreveram da mesma maneira o drama que passaram nos últimos dias. Famílias perderam tudo o que possuíam, sendo que não poucas choram a perda de vários entes queridos. De tudo que vi e ouvi, a cena mais comovente foi a fala de outra senhora. Ao ser questionada pelo jornalista sobre o que faria, ela respondeu: “Não sei. Não sei como recomeçar. Não sei o que fazer”.

As catástrofes são eventos embaraçosos para qualquer pastor explicar. Elas se apresentam como falhas no roteiro de Deus. É como se algum vírus infestasse o computador que processa a história humana, quebrando a rotina, danificando a ordem aparentemente harmoniosa do convívio homem-natureza. Talvez por isso, as primeiras explicações sejam buscadas nas chamadas “causas naturais”. O que aconteceu? “Basicamente, três fatores causaram essa tragédia: a enorme quantidade de chuva, o tipo de terreno e à imprudência de algumas pessoas que construíram suas casas em áreas de risco. Esses três fatores são responsáveis por tudo que testemunhamos”, essa foi a explicação de um geólogo.

“Ah, então foi isso? Ótimo, vamos organizar as equipes de resgate, os postos de doações, as contas bancárias para depósito de dinheiro, enfim, vamos amenizar o sofrimento dos catarinenses e reconstruir suas moradias”. O conforto que sentimos quando racionalizamos a vida e seus infortúnios permite-nos relativa paz e tranqüilidade. Até que outra catástrofe aconteça.

Houve um tempo em que os desamparados e aflitos costumavam clamar pela misericórdia divina. Os sofredores demonstravam duas atitudes: a primeira era o reconhecimento da presença de Deus em todos os fatos. Eles diziam: “Deus sabe o que faz. Se Ele permitiu que eu enfrentasse tal situação, é porque Ele tem algum propósito”. E em seguida arrematavam: “Tenho fé em Deus! Hei de vencer esse obstáculo”.

Hoje, infelizmente, as pessoas estão perdendo esse referencial. Deus não faz mais parte da vida delas. Não se recorre a Ele nem para explicar nem para superar as adversidades. Salvo raras exceções, a maioria dos homens prefere confiar no próprio esforço, na solidariedade dos semelhantes, na coragem, enfim, viveram tanto tempo olhando para baixo que a musculatura do pescoço já atrofiou e não pode mais olhar para cima. Pouco a pouco, a sensibilidade às obras de Deus está sendo perdida.

“Ouve-se a voz do SENHOR sobre às águas; troveja o Deus da glória; o SENHOR está sobre as muitas águas” (Sl. 29.3). Você ainda se lembrava dessas verdades? O bem e o mal fazem exatamente o que Deus quer. Estão ambos a serviço da glória do Senhor do universo. Não há sequer um centímetro onde a majestade de Deus não alcance. Ele governa todos os eventos, sejam ordinários (comuns, rotineiros), sejam catastróficos (enchentes, terremotos...). Ele jamais deixará de exercer o Seu domínio: “O SENHOR preside aos dilúvios; como rei, o SENHOR presidirá para sempre.” (Sl. 29.10).

Os homens foram criados à imagem e semelhança de Deus. Por isso são tão inteligentes. Eles conseguem explicar várias coisas. Pela observação e pelo estudo cuidadoso, entendem certos fenômenos naturais, bem como suas causas e conseqüências. Somos gratos a Deus por ter nos feito assim, inteligentes. Também somos gratos a alguns homens (cientistas, pesquisadores) por dedicarem suas vidas aos estudos e, assim, auxiliar-nos em nossa existência. A medicina, a astronomia, a engenharia e as demais ciências contribuem para que “tenhamos uma vida tranqüila e abençoada”. Contudo, elas jamais poderão ser o objeto de nossa fé. Seremos infelizes e eternamente insatisfeitos se confiarmos apenas nos homens e na sua limitada capacidade de explicação e solução dos problemas.

A sensação estranha que sentimos diante das cenas de destruição que vimos é fruto do amor de Deus em nossos corações. O pecado consegue distorcer e mesmo diminuir muitos dos frutos dessa virtude, porém, “o amor jamais acaba”. Brasileiros de todos os cantos, de todas as classes, de todas as crenças estão unidos em prol da mesma causa: o auxílio aos desamparados de Santa Catarina. É comovente ver homens e mulheres chorando pela situação de pessoas que nunca viram. Nesses momentos, é possível enxergar um pequeno brilho da imagem divina refletida em todos os seres humanos. Um pequeno raio, não mais que isso.

Oremos pelos desabrigados; oremos pelos que perderam parentes e amigos; oremos por nossos compatriotas. Se possível, ajudemos com nossos recursos também. Há vários meios de fazermos doações. “Façamos o bem a todos”, disse-nos o apóstolo Paulo. Porém, jamais nos esqueçamos de que “O SENHOR dá força ao seu povo, o SENHOR abençoa com paz ao seu povo” (Sl. 29.11).

Se a senhora citada no início dessa pastoral acreditasse nessas palavras, certamente ela estaria aflita. Mas, pelo menos, saberia por onde recomeçar!
Rev. Renato Arbués.

domingo, 23 de novembro de 2008

O Poder é meu. Ou seu!

Nos últimos dias, nossa cidade foi agitada com os boatos de que o prefeito eleito, Paulo Machado, poderia perder o mandato. Os motivos, segundo o advogado da outra coligação (em entrevista ao Jornal Canal Aberto, da rádio Caraíba), seriam o uso indevido do programa “Bolsa Família” e o toque do jingle – num período proibido pela Lei Eleitoral – da campanha do PT num evento no distrito de Carrapichel. A decisão da Justiça Eleitoral sairá nos próximos dias.

Nesta pastoral, não discutirei a responsabilidade deste ou daquele. Isso está além de minha competência. Vamos, entretanto, tomar as atitudes dos dois grupos políticos como emblemático do comportamento humano. O que está implícito nessa disputa? O que motiva ambos os lados: um para continuar no poder; outro, para tomá-lo? Ora, a eterna luta pelo poder. Uns lutam para conquistá-lo, enquanto outros o defendem a todo custo. Será o poder algo tão bom assim?

Você, com certeza, conhece o famoso ditado “o poder corrompe”, atribuído por uns a Nicolau Maquiavel; outros, no entanto, juram de pés juntos que o autor foi um tal de Lord Acton. Quem quiser enviar carta com a resposta, sinta-se à vontade. O que há de certo, é que o poder, na maioria das vezes, tanto corrompe quanto revela.

O poder corrompe? Corrompe, você dirá, apenas algumas pessoas. Que tipo de pessoa é corrompida por ele? A Bíblia menciona alguns, entre eles os avarentos. Estes não herdarão o reino dos céus (1 Co. 6.10). A avareza está relacionada ao desejo sórdido e excessivo pelo dinheiro. Poderíamos igualar poder e dinheiro? Trata-se da mesma coisa? Talvez sim, talvez não. Nem todas as pessoas têm como objetivo de vida a riqueza. Há quem deseje o poder pelo amor ao poder, ao status por ele conferido. Nossa sociedade está cheia de gente assim, são as chamadas celebridades.

Se você perguntar o que é ou o que faz uma celebridade, eu direi: “Tá aí uma questão difícil de responder”. Umas só aparecem na televisão, em programas de entretenimento (?), como Big Brother e congêneres. Outros “cantam”, outros dançam. Há os que casam e outros que brigam. Sem falar nos que posam nus. E há os políticos, os secretários, os diretores. Enfim, os poderosos. Ou você acha que poderosos não são celebridades? Eu fico com a definição que ouvi certo dia de alguém de quem não me recordo o nome: “celebridade é quem consome a si mesmo”. Perfeita definição. O que alimenta uma celebridade? Ela mesma, sua imagem, a “admiração” que os “fãs” declaram ter por ela. Pobres celebridades, corrompidas pelo poder e suas conseqüências.

Mas o poder é também revelador. Ele não é apenas o agente deformador de caráter. Por vezes ele é somente a luz lançada nas trevas da personalidade. Um sábio disse: “Quer conhecer uma pessoa? Dê-lhe poder!”. O Zé de ontem, hoje é o Sr. José. Por que a mudança? Exigência dele. Sinal de respeito. O Jão de outrora, uma vez deputado, será o Excelentíssimo Sr. João (com dois “os”). Lembra da Mariinha, aquela de vestido de chita, que vendia bolo? Pois é, “tirou um deploma” e hoje é a Dona Maria das “tantas” (seu sobrenome). Pergunta: O que mudou foi a essência ou a aparência dessas pessoas fictícias?

A contraposição a tudo isso é encontrada nas páginas das Escrituras Sagradas. Lá, os exemplos que temos são de homens e mulheres que tinham tudo para serem reverenciados e adorados pelos demais mortais, mas preferiram a humildade. Homens como João Batista, que ao receber a pergunta almejada por muitos, como a deixa para se vangloriarem, respondeu apenas: “Convém que Ele (Jesus) cresça e que eu diminua” (Jo. 3.30). Graças a Deus, a história das grandes realizações humanas está repleta de personagens secundários, cuja participação nos eventos históricos foi decisiva.

Aliás, o autor de Hebreus, após mencionar alguns nomes de heróis da fé, conclui o parágrafo destacando os gigantes de Deus, “homens dos quais o mundo não era digno” (Hb. 11.38), gente de quem sequer sabemos os nomes, mas que receberam a maior das recompensas: o prazer de Deus.

Tomara que os que disputam o poder de nossa cidade estejam a, pelo menos, meia altura dos homens que realmente fizeram a diferença. Tomara que o poder não corrompa o ganhador - seja quem for - e nem o revele muito diferente do que julgamos.

Deus nos abençoe.
Rev. Renato Arbués.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

CONGRESSO DE JOVENS CONSERVADORES!

Nossa Congregação tem a alegria de sediar o IV Congresso de Jovens Presbiterianos Conservadores da Bahia. Damos as boas-vindas a todos os rapazes e moças aqui presentes, bem como aos demais irmãos e amigos de outras denominações que prestigiam este evento. Destacamos, ainda, a presença abençoadora do Rev. Antônio Marcus, pastor da IPB de Campo Formoso, responsável pela ministração da Palavra do Senhor.

E quanto ao Congresso? Bem, é impossível não fazer menção a algo que parece inusitado: jovens reunidos num final de semana para ouvirem os ensinamentos do Senhor Deus. Inusitado, por quê? Por várias razões. Jovens não gostam muito de reunião, a não ser que seja para, nas palavras deles, “curtir”. E ler a Bíblia, obviamente, não faz parte da idéia deles de curtição.

Outra coisa, é um congresso de jovens presbiterianos. Os presbiterianos são famosos por algumas de suas doutrinas. Geralmente não são bem compreendidos, ou não se fazem compreender pelos demais grupos protestantes. Eles têm fama de frios, sérios, ortodoxos demais. Também o que esperar de jovens que priorizam o estudo da Palavra em detrimento de horas e horas de louvor? Seus cultos são muito silenciosos, suas orações parecem ter sido escritas antes, seu comportamento é reverente demais. E reunir esses jovens num Congresso não parece boa idéia, não é mesmo?

Mais. Trata-se de jovens presbiterianos conservadores. Já não bastava ser presbiterianos, tinham de ser conservadores? Haja tradicionalismo! Não batem palmas, não gritam amém, não dão “uma salva de palmas para Jesus”... Credo, o que esse povo faz? Essa é fácil de responder: Eles conservam! Conservam uma liturgia bíblica, reverente, racional e espiritual; conservam a leitura e a exposição das Escrituras Sagradas como o centro do culto; conservam a “fé que uma vez por todas foi entregue aos santos”.

É ou não é inusitado?

Certamente que não. A Igreja de Deus se manifesta sob várias ramificações, das quais a Igreja Presbiteriana Conservadora é apenas mais uma. Não é melhor, não é pior, não é diferente. É mais uma igreja de Cristo, cujas práticas litúrgicas, doutrinárias, devocionais são tão legítimas quanto às das denominações comprometidas com o Reino de Deus.

Os jovens presbiterianos conservadores não são frios nem tradicionalistas. Não são apegados a práticas litúrgicas como um fim em si, mas como meios para um objetivo maior: a glorificação de Deus, a edificação dos eleitos e a salvação dos perdidos. Jovens presbiterianos conservadores fazem um culto alegremente reverente ou reverentemente alegre. E nossa congregação tem muito orgulho e alegria pela presença deles, ainda que somente por um final de semana.

Sejam bem-vindos, jovens. Sejam bem-vindos, irmãos e amigos de outras igrejas irmãs. E que a Palavra de Deus seja o elo entre nós!
Rev. Renato Arbués.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

“A tua própria boca testificou contra ti”

Há dois dias Davi estava em Ziclague, descansando da última batalha. Ao terceiro dia, chega um homem ao arraial “com as vestes rotas e terra sobre a cabeça”. Era um amalequita que havia conseguido fugir do arraial de Israel, devastado pelos filisteus. O homem trazia uma notícia: o rei Saul e seu filho, Jônatas, estavam mortos. Ele os havia matado.

A ironia da história fica por conta do desfecho. Ele aguardava ser recompensado por Davi. Com a morte de Saul, Davi poderia reinar sobre Israel. “Davi vai ficar tão feliz, que me presenteará com ouro, roupas finas e, quem sabe, um cargo no palácio”, deve ter pensado o amalequita. Ao invés disso, Davi chamou um de seus soldados e deu a seguinte ordem: “Vem, lança-te sobre esse homem”. O soldado feriu o mensageiro, e este morreu. Essa história pode ser lida nos seus detalhes no Segundo Livro de Samuel, capítulo 1.

O rei Davi não suportou a impertinência de um homem que havia acabado de matar o “Ungido do Senhor” e, ainda por cima, se vangloriava de tal fato. Quem conhece a história sabe que o amalequita estava mentindo. Saul havia cometido suicídio. O futuro rei de Israel – Davi – ficou tão furioso que ordenou a morte do mentiroso. Foi então que Davi pronunciou as palavras que dão título a essa mensagem: “A tua boca testificou contra ti” (2 Sm. 1.16).

É impossível ler essa história e não meditar nas inconseqüências de nossas palavras. Por razões diferentes das do amalequita, os homens têm falado coisas que testificam contra si mesmos. São promessas não cumpridas, votos desfeitos, compromissos ignorados, juras falsas, calúnias, mentiras, ofensas...

Não faz muito tempo, um senhor de meia-idade teve de ouvir de um comerciante a seguinte frase: “Você? Você se diz crente? Mentira!”. A surpresa do comerciante se deveu ao não pagamento de uma dívida e à tentativa, por parte do “crente” de adquirir mais uns produtos.

“Você se diz crente?”, como deve ser constrangedor ouvir isso!

É bom que se afirme que vida cristã não é vida perfeita. Não se está defendendo aqui a absoluta necessidade de conduta perfeita a fim de evidenciar-se cristão. Isso seria uma mistura de legalismo com farisaísmo.

Como calvinistas, afirmamos as verdades bíblicas como às da Depravação Total e Pecaminosidade Humana. Além, claro, da maravilhosa doutrina da Graça Irresistível de Deus e da Santidade dos crentes. E como calvinistas cremos tanto na Soberania de Deus quanto na Responsabilidade dos Homens. Nossa santificação vem de Deus, mas isso não elimina nossa responsabilidade de buscá-la e vivê-la na obediência aos preceitos cristãos.

O apóstolo Paulo, como bom calvinista, equilibrava essas duas verdades com uma naturalidade desconcertante para alguns: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1 Co. 15.10).

Os crentes de hoje se vêem numa guerra. Estamos, sim, combatendo o bom combate. Mas, quem são os nossos inimigos? Satanás, o mais forte deles; o mundo, o mais “tristemente prazeroso”; e, a carne (a natureza humana), a quem somos mais vulneráveis. Se empenharmos todas as nossas forças na luta contra um desses inimigos – Satanás, por exemplo – ficamos expostos aos outros dois. Logo, precisamos, como ensinou Jesus, “vigiar e orar, para que não entreis em tentação”.

Portanto, tomemos cuidado a fim de não sermos derrotados por nós mesmos, sim, pela nossa própria boca. Falemos sempre a verdade, cumpramos sempre a nossa palavra, sejamos leais e honestos, esforcemo-nos para sermos achados fiéis à Palavra que professamos.

Talvez se o amalequita tivesse vivido alguns anos mais tarde, nos dias de Salomão, e tivesse ouvido e obedecido os conselhos do Sábio Rei, quem sabe, não teria tido uma morte tão ingrata: “Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus [...]; Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. [...] Não consintas que a tua boca te faça culpado, nem digas diante do mensageiro de Deus que foi inadvertência...” (Ec. 5.1-6).
Rev. Renato Arbués.