“Por que nenhum de nós vive para si mesmo,
nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para
o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor”.
O
apóstolo Paulo está escrevendo suas últimas recomendações aos cristãos romanos.
Ele estava preocupado com a tendência que os seres humanos têm de se separarem
por qualquer motivo. Não era diferente naquela Igreja. Alguns cristãos
simplesmente deixavam de relacionar-se com outros apenas por questões sobre o
comer carne ou beber vinho ou guardar este ou aquele dia da semana.
O
argumento de Paulo passa por frases marcantes como as dos versos 7-8: “Porque
nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor
morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor”. Quer dizer,
somos parte de algo maior; somos parte de uma família, da família de Deus. E
tudo que fazemos deve levar em conta essa relação harmoniosa e fraternal com os
demais filhos de Deus.
De
fato, a realidade que importa é a de que todos os crentes não pertencem a si
mesmos, nem uns aos outros primeiramente: eles pertencem a Deus. Eles são do
Senhor, quer estejam vivendo quer estejam morrendo!
Essas
palavras de Paulo foram dadas para confortar e consolar os filhos
de Deus que seriam perseguidos e teriam, dentro em breve, de enfrentar
torturas e condenações. Essas palavras foram tão poderosas que, ao longo da
história, elas amenizaram a dor e o sofrimento de diversos cristãos à beira da
morte. Tal consolo, infelizmente, não é desfrutado pelos sábios e poderosos,
pelos proeminentes e eruditos. Não, essas palavras são para os que fazem parte
da família de Deus.
A
escritora Rachel de Queiroz
escreveu: “Morrer, só se morre só. O
moribundo se isola numa redoma de vidro, ele e a sua agonia. Nada ajuda nem
acompanha”. Coitada. Dá pra sentir a tristeza e a decepção dessa senhora
quando escreveu essas palavras. Para que você, meu caro amigo, perceba a
diferença de atitude ante a morte, vou citar um trecho de um discurso de Benjamin Franklin: “O homem fraco teme a morte, o desgraçado a chama; o valente a procura.
Só o sensato a espera”.
Há
um antigo e conhecido Catecismo da Igreja Protestante, o Catecismo de Heidelberg, que afirma: “O meu único conforto é que - corpo e alma, na vida e na morte – não
pertenço a mim mesmo, mas ao meu fiel Salvador, Jesus Cristo, que, ao preço do
seu próprio sangue pagou totalmente por todos os meus pecados e me libertou
completamente do domínio do pecado...”.
Martinho Lutero, diante da dieta de Worms, foi pressionado a negar
sua fé e acatar a antiga tradição que ele professava. Sua resposta, dada diante
do imperador, de autoridades da Igreja, de soldados e de uma grande platéia,
foi: “A não ser que os senhores me provem
pela Escritura e pela razão que eu estou errado, não poderei e não me disporei
a voltar atrás. Minha consciência está sujeita à Palavra de Deus. Ir contra a
consciência não é direito nem seguro. Aqui fico. E que Deus me ajude. Amém”.
Na noite anterior, Lutero não conseguira dormir, de tanta apreensão. Mas,
naquele momento, foi tomado pela paz, pela certeza de vivo ou morto, ele era do
Senhor.
Um
outro reformador, inglês, Thomas Cranmer,
o arcebispo de Henrique em Cantuária, foi preso pela rainha Maria, a
Sanguinária. Foi condenado à fogueira com mais 330 protestantes ingleses. Foi
colocado na prisão e torturado durante meses, até que concordou em escrever um
documento no qual renunciava à fé. Os perseguidores prometeram que iriam
soltá-lo. Mentira. Quando ele soube que seria morto, pediu papel e caneta e
escreveu outro documento pedindo desculpas aos cristãos. Quando foi levado à
fogueira, estendeu a mão direita na direção das chamas e gritou: “Posto que a minha mão ofendeu, escrevendo
contrário ao meu coração, minha mão será punida primeiro por isso; pois seja eu
levado ao fogo, será queimada primeiro”.
Você
dirá: belos casos de heroísmo. Eu direi: Não foi apenas o heroísmo, mas a
confiança em Deus que sustentou todos esses homens e continua sustentando o
povo de Deus hoje.
Eu
sei que muitos crentes deixaram de pensar em coisas como o céu ou o inferno.
Eles estão interessados na vitória contra o desemprego, contra as crises,
contra a solidão. Eles não estão dispostos mais a sofrer por Cristo, quanto
mais a morrer por Ele. Que pena! O amor a Deus foi substituído pelo amor às
coisas de Deus. Espero que você não enfrente nenhuma dessas situações, nem que
precise ficar doente como Jó e perder todos os bens. Mas, se você, meu amigo,
estiver enfrentado uma doença, se você estiver triste por algum problema, se
você estiver chorando, sentindo-se pressionado pelas circunstâncias da sua
vida, console-se nas palavras de Deus, ditas por meio do apóstolo Paulo:
“Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor
morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor”.
Deus
nos protege tão bem que, contra a vontade do Pai celestial, não perderemos
sequer um fio de cabelo, porque tudo coopera para o bem daqueles que amam a
Deus. Conheçamos a verdade, e a verdade nos libertará da ignorância, da
tristeza, do medo.
Amém!
Rev. Renato Arbués.
1 comentários:
Rev. Arbués,
Muito bom o texto. Realmente, hoje é difícil termos o foco em Deus. Com as diversas "teologias" que apareceram por aí, as pessoas querem mais saber da sua vida terrena e transitória do que a eterna.
Que Deus, como misericordioso e bondoso Pai, possa nos ensinar a priorizar o quê realmente vale à pena.
Em Cristo,
Presb. Vítor Emmanuel Andrade
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