Rev. Paulo Brocco

Pregação no culto de encerramento do Presbitério Piratininga.

Batismo da irmã Raimunda Goveia"

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará"!

Fachada da IPC de Bonfim

Rua A Quadra A, nº 48, Casas Populares - Senhor do Bonfim - BA

Igreja em festa: Confraternização

IPC de Senhor do Bonfim em festa.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Não há lugar!

No livro “As cidades Invisíveis” (Cia. das Letras, 2000), Ítalo Calvino põe em cena Marco Pólo descrevendo para Kublai Khan as cidades que visitou em missões diplomáticas. São cidades, como o título do livro sugere, fictícias. Todas elas têm nomes femininos, mas não se trata de nenhuma crítica às mulheres; antes, o jovem navegador “humaniza” cada cidade de tal forma que é impossível não reconhecer nelas algumas de nossas próprias características ou traços comportamentais.

Uma das cidades é Leônia. Marco Pólo diz que a paixão dos leonianos “é desfrutar coisas novas e diferentes”. A cada manhã eles “vestem roupas novas em folha, tiram latas fechadas do mais recente modelo de geladeira, ouvindo jingles recém-lançados na estação de rádio mais quente do momento”. Durante o relato, Marco Pólo admite não saber se o prazer dos leonianos é desfrutar de coisas novas ou “expelir, descartar, limpar-se de uma impureza recorrente”. Como você deve ter concluído, os arredores de Leônia são um caos. Montanhas de lixo se acumulam e os moradores ficam “ilhados”, pois “uma fortaleza de dejetos indestrutíveis cerca a cidade, dominando-a de todos os lados, como uma cadeia de montanhas”.

O fato é que em Leônia não há lugar para nada. Tudo está cheio. As casas são mobiliadas ao limite. Não podem comprar um só objeto sem que antes não tenham de descartar um outro. É assim também com as pessoas. Em Leônia há um rígido controle de natalidade. As pessoas precisam pedir permissão para terem filhos. Lá também não há lugar para visitantes: onde seriam colocados? E, claro, já era de se esperar, em Leônia também não espaço para os que não podem consumir. Os leonianos não ouvem a mensagem de Marco Pólo de que “à medida que a cidade se renova a cada dia, ela preserva totalmente a si mesma na sua única forma definitiva: o lixo de ontem empilhado sobre o lixo de anteontem e de todos os dias e anos e décadas”.

Essa descrição da cidade fictícia de Leônia, sugere uma reflexão oportuna: Leônia se parece ou não com sua casa, caro ouvinte? Será que você não é, na verdade, é um cidadão leoniano?

O Natal é uma ótima época para respondermos a essas perguntas. Queremos comprar uma TV nova, um sofá novo, roupas novas, bicicletas novas, mas, precisamos mesmo de televisores novos, de sofás novos, de roupas novas, de coisas novas? Precisamos mesmo de tantas “comprinhas para o natal”? O que fazemos com o “que ficou velho” em nossa casa e que até ontem nos servia tão bem? Jogamos fora? Acumulamos?

Algo muito triste também está acontecendo em nossos dias. Assim como os leonianos, estamos nos acostumando a descartar pessoas também! Nossas cidades vivem cercadas não só de montanhas de lixo, mas de montanhas de gente, que empurramos para longe porque não há espaço para todos no mundo consumista, novo, confortável.

Essa é a triste condição de nossos dias, na comemoração do Natal. O Sr. Jesus Cristo, pasmem, também não encontrou lugar em muitas casas. Elas estavam cheias de comida, de presentes, de alegria, de pessoas, que não sobrou lugar para uma manjedoura velha e um menino recém-nascido! Isso não é novidade, afinal, o “aniversariante” principal da semana nasceu no seguinte contexto: “Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, e ela (Maria) deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc. 2.6-7). Pois é, a hospedaria estava tão cheia de pessoas nobres, importantes, fregueses pontuais, que não sobrara lugar para Jesus Cristo!

Meu caro ouvinte, houve lugar para Jesus em sua vida durante este ano? Se não, por quanto tempo você vai permitir que essa situação perdure? Use coisas, ame pessoas. E, mais importante, busque ao SENHOR enquanto se pode achá-lO.

Feliz Natal, próspero ano novo!
E pense nisso.
Rev. Renato Arbués.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

E na crise, fazer o quê?

Há pelo menos três meses os jornais não falam de outra coisa a não ser a tal crise do sistema financeiro. O banco “fulano de tal” quebrou, a montadora X vai fechar as portas, cidadãos americanos perderam suas casas, não há empregos. Os economistas se revezam nas entrevistas para aconselhar-nos, mas o que eles falam, sem falsa modéstia, todos nós já sabíamos: “É preciso ter cautela. Cuidando com as prestações. Os juros são exorbitantes...”. Parece que o mundo vai entrar em concordata, preparando-se para declarar falência.

Por aqui, na terra do “em se plantando tudo dá”, os governantes se comportam como adolescentes. Num dia, o presidente vem a público e diz para gastar: “Tem de gastar mesmo. Com muito dinheiro circulando, evitaremos a recessão, salvaremos os empregos e movimentaremos a economia”. No outro, com o mesmo terno azul e a barba branca de sempre, o conselho, em tom sereno e paternal, é: “Tem que ter um pouquinho de juízo. Não se pode comprar tudo”. No que diz respeito à análise da dimensão da crise, a coisa não é muito diferente, não. O mandatário maior da pátria, no comecinho do problema, disse que a crise chegaria aqui como “um ventinho”, quase uma brisa. Agora já admite que “a coisa tá parecendo uma leve tempestade”. Como assim, leve tempestade? O que é isso? Essa é da mesma lavra do “grite baixo, por favor”.

Independentemente do alcance da crise e dos seus efeitos, há algo de meritório nela. Ela nos faz rever algumas de nossas práticas à luz de nossas teorias. Fica claro que a palavra teoria está sendo usado no lugar de “doutrina”. Pois bem, comecemos com a oração que Jesus nos ensinou. Nela, pedimos que o pão de cada dia seja dada “a cada dia”. Na prática, queremos mais do que pão (alimento). A cada dia gastamos nossos recursos adquirindo pão, cd, roupa, livro, som, brinquedo, jóia, relógio e um montão de coisas que precisamos ou que sequer sabemos para que servem. Mas temos em casa!

E a doutrina da Providência? Ela ensina que Deus vê e cuida de todas as nossas necessidades. Mas como Ele faz isso? Há quem jure que anjos descem do céu e aplicam uma injeção com antibióticos em sua coluna (também pode ser no pé, no braço, na mão), enquanto o pastor (outro, não eu) estava orando! Também crêem que Deus manda anjos depositarem dinheiro nas suas contas bancárias, fechar a boca de cachorro bravo, empurrar carro (“quando a gasolina acabou, ainda andamos cinco quilômetros, oh glória!”), sortear o nome premiado na rifa e coisas afins. Mas é assim que Deus age providencialmente?

Biblicamente, a resposta é não. Deus cuida de nossas necessidades através de nós mesmos. Alguém disse que não devemos orar para que Deus resolva nada, se não estivermos dispostos a fazer parte da resposta divina. A Bíblia está cheia de diretrizes para que ajudemos uns aos outros, para que auxiliemos as viúvas e os órfãos, que deixemos cair espigas de milho para saciar a fome dos desamparados. Contudo, deve-se admitir, com vergonha, que a prática da igreja tem sido outra. Os cristãos têm se tornado egoístas, não demonstrando solidariedade com os carentes. E os crentes ambiciosos? Estão sempre desafiando a Deus, colocando o dedo em Seu rosto (?), exigindo que as “portas do céu sejam abertas” e que tenham prosperidade e saúde, prosperidade e saúde...

O Senhor Jesus disse que devemos nos inquietar com as ansiedades da vida. Ele sabe do que precisamos antes de pedirmos: “Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas” (Mt. 6.31-32). Na teoria, cremos; na prática, vivemos assim?

A crise está aí. É real e é bom que tenhamos prudência. Somos filhos da Luz e, como tais, devemos viver de forma digna da nossa vocação (2 Ts. 1.11). Não precisamos de economistas ou de presidentes, nem de apresentadores nem de conselheiros, para nos ensinar o que aprendemos nas Sagradas Escrituras: Confiar em Deus e viver de forma sóbria, contentar com o que temos recebido, prover aos órfãos e às viúvas e ser gratos a Deus por suprir cada uma de nossas necessidades (Fp. 4.19).
Rev. Renato Arbués.