O cristianismo de nossos dias tem
vivido uma situação paradoxal. Por um lado, há uma radiante celebração pelo
número de convertidos, por outro, uma insistente e cansativa reclamação vinda
dos púlpitos pela inexpressividade do testemunho cristão neste mundo tenebroso.
Como explicar tal situação?
Houve um tempo, muito distante, em
que as Escrituras eram a primeira referência quando o assunto era a vida
cristã. Questões como “é certo namorar com descrentes?”, “um cristão pode beber
vinho?”, “o homossexualismo é certo ou errado?”, entre outras, eram logo
tratadas da seguinte maneira: “Vejamos o que a Bíblia diz”.
É certo que muito do que é (e foi)
dito “de acordo com a Bíblia”, na verdade, não passava de preferência ou
preconceito de líderes e suas denominações. Talvez por isso, muitas das
respostas “de acordo com a Bíblia” foram ignoradas, quando não rejeitadas por
completo.
E aí? Bem, quando a Bíblia não fala o
que as pessoas querem, restam duas opções: submeter-se humildemente à sua
autoridade ou rebelar-se.
Se adotarmos o critério de considerarmos
cristãos apenas aqueles que se submetem humildemente à autoridade bíblica,
talvez os números não provocassem tanta comemoração. Contudo, no que diz
respeito ao testemunho, à influência cristã neste mundo em trevas, certamente,
seríamos reconhecidos como luzes e sal da terra.
Tristemente, portanto, o paradoxo
pode começar a ser respondido a partir desse ponto. Embora haja muitos crentes,
nem todos são praticantes da verdade (Tg.
1.22). Dos púlpitos, ouvimos muitas dicas extraídas da psicanálise, da psicologia,
da filosofia, da sociologia. Jamais duvidei da capacidade que Freud teve para
analisar certos comportamentos humanos. Mas não acho que ele saiba algo sobre a
depravação total, a necessidade de justificação e a natureza da maravilhosa
graça divina.
Conversando com adolescentes e jovens
cristãos sobre o futuro, dificilmente se ouve de um deles o desejo de estudarem
Teologia e se tornar pastor. Querem cursar Engenharia, Medicina, Direito. Estão
certos. Estão totalmente certos. Não se pode aprender a amar algo que se
desconhece. Muitos cristãos de hoje, infelizmente, desconhecem a Palavra de
Deus.
Creio que as palavra do anjo que
recebeu as mulheres que foram ao túmulo de Jesus deveriam ser consideradas
pelos pregadores modernos antes de sentarem em seus escritórios para escreverem
um sermão: “Por que buscais entre os
mortos ao que vive?” (Lc. 24.5). Tais palavras precisam ser levadas a sério por aqueles que preferem usar o púlpito para tagarelar sobre atualidade, comportamento ou auto-ajuda.
À lei e aos profetas!
À lei e aos profetas!
Se todos os pregadores lessem mais a
Bíblia, estudassem Teologia mais seriamente e deixassem a sabedoria deste mundo
em segundo plano, possivelmente, perderíamos muitos animadores de auditório,
mestres de auto-ajuda, psicanalistas de sessões coletivas, em compensação,
ouviríamos com temor e tremor verdadeiros atalaias.
É isso.
Rev. Renato Arbués.