Estudar a Bíblia, comparando o
que os homens dizem que elas ensinam, com o que, de fato, está escrito, é um
exercício fascinante. Infelizmente, algumas
ideias sobre Deus são demasiado humanas. Pior, algumas ideias, além de
humanas, contradizem o relato bíblico.
Teologia da Prosperidade! É um
movimento surgido dentro de algumas igrejas e que também é conhecido como
“Confissão Positiva”. É comum ouvir da boca de pregadores e crentes da Teologia
da Prosperidade coisas do tipo: “Você é
filho do Rei, não tem por que ter uma vida derrotada” ou “Declare as bênçãos de Deus sobre sua vida”
ou ainda: “o verdadeiro filho de Deus não
fica doente; Deus honra seu povo”! E outras expressões afins.
Ser derrotado, para a Teologia da
Prosperidade, pode ser sinônimo de ser pobre. O cristão – dizem – não pode
passar dificuldades financeiras. Se isso acontece, das duas uma: a) ou ele não
confia em Deus; b) ele está em pecado!
Pois bem, vamos ler as Escrituras
Sagradas. Há um trecho que, creio eu, todos devem conhecer: A Parábola do Homem Rico e Lázaro. Está
registrada em Lucas 16.19-23.
Leia-a, por favor.
É preciso ter cuidado para não
deduzir coisas que a parábola não ensina. Jesus não ensinou que todos os ricos
vão para o inferno, nem que todos os pobres vão para o céu. Não há elogio nem
desprezo à condição social de nenhum dos dois personagens.
Somos colocados diante de um
quadro que ilustra bem as palavras de Salomão em Provérbios 13.7: “Uns se dizem ricos sem terem nada; outros
se dizem pobres, sendo mui ricos”.
Como alguém escreveu: “Quando os bens materiais foram deixados para
trás, quando o rico foi para o túmulo, onde essas coisas não têm valor algum,
ele nada tinha para levar consigo à eternidade. Possuía riquezas na terra, mas
nenhum tesouro no céu. Sendo rico, certamente ele tinha muitos amigos, mas não
tinha O amigo e advogado à destra de Deus. Comia manjares e as mais nobres
refeições, porém não teve direito ao Pão da vida. Sua riqueza não era
verdadeira riqueza, pois estava sem Cristo, sem fé, sem perdão e sem santidade.
Quando morreu foi para o inferno. Na verdade, o homem rico era desesperadamente
pobre.”
Ora, se bens materiais não nos
darão direito ao mais importante dos bens, a vida eterna; se riquezas na terra
não nos garantirão um tesouro no céu; se saúde física não garantirá a saúde
espiritual... Como viver em função dessas coisas? Como buscar a Deus a fim de
apenas receber recompensas materiais, como: riqueza, prosperidade, saúde,
abundância...?
Não estamos negando o valor
dessas coisas. Nós as buscamos pelos meios estabelecidos por Deus: “Com o suor do teu rosto comerás...”, é
a ordem divina! O trabalho é o meio deixado por Deus para conquistarmos o pão
de cada dia.
O que estamos questionando é a
incessante busca por parte dos crentes de bens e coisas, de felicidade na
terra, de abundância de manjares, enquanto as “coisas lá do alto” são deixadas
em segundo plano!
Lázaro não tinha nada neste
mundo. Porém, no sentido mais elevado, Lázaro era rico. Era um filho de Deus,
com uma herança no céu. Suas riquezas eram duradouras e verdadeiras. Lázaro se
alimentava do Pão da Vida.
Ora, pelo critério de hoje,
certamente alguns diriam que o “abençoado” era o rico; enquanto Lázaro deveria
confiar mais em Deus, fazer um voto, preencher um envelope, colocar dinheiro
dentro e esperar que Deus lhe respondesse!
O Pr. Francisco Belvedere Neto,
da Igreja Metodista, escreveu que: “a
teologia da prosperidade une o fútil ao desagradável, ou seja, é uma mistura de
ganância e comodismo. Os adeptos da teologia da prosperidade acham que nós
temos direito de reivindicarmos o que quisermos de Deus, esquecendo da
soberania divina”.
É estranho distorcer a Palavra de
Deus para fazê-la dizer o que nenhum dos santos profetas disse. Vamos à Bíblia:
Mt. 6.19-21: “Não acumuleis
para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e
onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu,
onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque,
onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”.
Ora, se Jesus ensinou que não
devemos “acumular” é fácil concluir que não devemos “procurar” também!
1 Tm. 6.6-10: “De fato,
grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos
trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação,
e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam
os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos; e
alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com
muitas dores”.
É quase possível ouvir algumas
pessoas dizendo: “Mas, e o texto de
Filipenses?”. Vamos lê-lo? Fp. 4.13:
“tudo posso naquele que me fortalece”.
Kenneth Hagin tem um livro muito
famoso aqui no Brasil: O Nome de Jesus.
Esse autor em outro texto escreveu que Paulo, nessa passagem, ensina que não há
nada que Deus não possa fazer na vida dos que creem; que só é preciso ter fé,
que tudo que você pedir, vai acontecer!
Depois de ler isso, concluímos uma
de duas coisas sobre Kenneth Hagin: ou ele ensinava o que não fazia; ou ele não
gostava de seus familiares. Sim, porque a pesquisadora de religiões Mary Schultz conta que o cunhado e a
irmã de Kenneth Hagin morreram de câncer e que ele mesmo usou óculos até
morrer! Se eu fosse maldoso, perguntaria: “Por
que ele não declarou a cura para si mesmo e para os que ele amava?” Vai
saber!
Mas voltemos a Fp. 4.13. Qualquer aluno da pré-escola
sabe que antes do 13 vem o 12, e que antes do 12 vem o 11... Afinal, do que Paulo tratou no capítulo 4 de
Filipenses?
v. 10: “Alegrei-me, sobremaneira,
no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado;
o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade” ð
Paulo, em mais de uma ocasião, recebeu dinheiro daquela igreja para suprir as
suas necessidades de comida e de abrigo.
vv. 11-12: “Digo isto não por
causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.
Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as
circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de
abundância como de escassez.”
Eis do que trata Paulo. Ele
aprendeu a enfrentar QUALQUER situação, fosse riqueza, pobreza, saúde,
doença... Tudo ele podia enfrentar naquele que fortalece o homem: Cristo.
Quando eu era seminarista em São
Paulo, ouvi um testemunho impressionante: um rapaz crente havia ido buscar a
noiva na porta do colégio quando foi abordado por dois assaltantes. Deram-lhe
dois tiros: um na cabeça e outro no ombro. O rapaz sobreviveu e a igreja estava
em festa porque ele estava ali dando aquele testemunho de fé!
Louvado seja Deus que nos livra
da morte. Vários de vocês que leem esta pastoral podem contar coisas tão
maravilhosas quanto essas: um livramento da morte certa; a cura de uma doença
quase fatal; Deus restabelecendo um lar... Isso tudo é digno de louvores a
Deus.
Mas, e quantos aos demais leitores
que nunca levaram um tiro e nunca estiveram no leito de uma UTI? O que dizer de
quem nunca teve de lutar contra uma doença grave? De quem nunca foi assaltado?
Será que Deus também não foi bondoso com vocês?
Eu já fui assaltado. O bandido
colocou a arma na minha cabeça e disse que ia atirar. Graças a Deus não o fez.
Meu irmão vive em Brasília há mais de 10 anos. Nunca teve uma arma apontada
para ele. E eu creio que o mesmo Deus que cuida de mim, cuida também do meu
irmão!
Apesar de terem sido tão
diferentes em suas vidas, tanto Lázaro como o homem rico chegaram ao mesmo fim.
Ambos morreram. Este é o destino de todos os homens, e também será o seu e o
meu. A morte é o grande inimigo que ninguém pode vencer. Ela não poupa pessoa
alguma; e não esperará até que você esteja pronto. A morte virá na hora
estabelecida por Deus.
Todos os homens conhecem esses
fatos, os que creem na Teologia da Prosperidade e os que não creem. Porém, a
maioria não os percebe como realidade. Se os percebessem, fariam algo a
respeito.
Por isso, não coloquem seus
corações neste mundo agonizante. Você pode até ganhá-lo, mas perderá a sua
alma! Vale o preço?
Rev. Renato Arbués.