Você sabe o que é alexitimia? Nunca ouviu falar? É provável. De acordo com a
psiquiatria, alexitimia, do grego a
(ausência), léxis (palavra) e thymós (emoção), é a falta de capacidade
de falar das emoções. Viver com alguém portador desse distúrbio é ter a
sensação de estar próximo a um robô, alguém que não possui qualquer sentimento.
Segundo Goleman (1995), as
características clínicas que assinalam a alexitimia incluem dificuldades para
descrever sentimentos – os próprios ou os de outrem – e um vocabulário
emocional seriamente limitado. Eis o problema maior de se conviver com um
alexitímico. Não é que eles não sintam, mas não sabem – e, sobretudo, não podem
expressar em palavras – precisamente quais são seus sentimentos. É comum um
parceiro de um portador de alexitimia pensar que seu/sua parceiro(a) não tem
coração ou que possua um coração de gelo.
Infelizmente, o silêncio emocional de um
alexitímico contagia os que estão à sua volta, transformando um ambiente,
outrora feliz, num cemitério de vivos. Com o tempo, o distúrbio, se não for
tratado, tende a se agravar, levando o paciente a somatizar os sintomas. Dores
de cabeça, dores estomacais, perda de cabelo, aumento de peso, insônia, choro
e, num extremo, câncer, são alguns dos efeitos que a incapacidade de verbalizar
as emoções pode produzir. Terrível, não?
O rei Davi parece ter sido tomado pela
alexitimia em pelo menos um episódio: O adultério com Bate-Seba e o assassinato
de Urias (2 Sm. 11). Davi não falou
com ninguém sobre isso. Silêncio total. O silêncio perdurou até o dia em que o
profeta Natã o confrontou (2 Sm. 12.1-15).
O que aconteceu com Davi durante o período que vai do crime à conversa com
Natã?
Depois do arrependimento, o próprio rei
nos responde essa pergunta. No Salmo 32.3, lê-se: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus
constantes gemidos todo o dia”. Davi quase sucumbiu ante o peso da sua
consciência. O silêncio acerca dos seus pecados fazia os seus ossos
“envelhecerem”. A ideia hebraica do termo “envelheceram” é que eles foram
gastos pelo uso contínuo e excessivo. A expressão “ossos” pode ser “substância,
essência”. O Salmo nos revela um Davi desconhecido. Um homem fraco, prestes a
explodir. Talvez a expressão correta seja implodir, pois ele estava sendo
destruído de dentro para fora. E tudo por não ser capaz de falar de uma emoção
– no caso, a culpa – sentida.
Por nos conhecer tão bem, Deus, há muito
tempo, ensinou-nos a cura para esse mal. Precisamos falar sobre o que sentimos.
E precisamos falar para as pessoas que amamos. Deus quer que falemos sobre
nossos sentimentos, nossas culpas e nossos desejos. A desobediência a esse
princípio causará a nossa própria ruína.
Veja o que o filho de Davi ensinou a
partir do que aprendera com o silêncio de seu pai:
* Lidando
com a ansiedade: “A ansiedade no
coração do homem o abate, mas a boa palavra o alegra” (Pv. 12.25). Se você guardar a ansiedade e tentar lidar com ela
sozinho e calado, você será abatido! Fale com alguém e veja o resultado.
*
Lidando com o pecado: “O que encombre
as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa
alcançará misericórdia” (Pv. 28.13).
Pecados não devem ser escondidos em lugar nenhum. Muito menos em nosso íntimo. A
graça perdoadora está ao alcance de nossa confissão. Deus disse isso.
Salomão sabia que fechar-se em si mesmo
não é solução, ao contrário, é problema. Séculos depois do sábio rei, a
psiquatria chegou à seguinte recomendação para os alexitímicos: “Se você conseguir colocar em palavras o que
está sentindo, o sentimento fica sob seu controle”.
Não tem jeito. Comece a falar!
Rev. Renato Arbués.
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