quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O JEITO É FALAR!

Você sabe o que é alexitimia? Nunca ouviu falar? É provável. De acordo com a psiquiatria, alexitimia, do grego a (ausência), léxis (palavra) e thymós (emoção), é a falta de capacidade de falar das emoções. Viver com alguém portador desse distúrbio é ter a sensação de estar próximo a um robô, alguém que não possui qualquer sentimento.

Segundo Goleman (1995), as características clínicas que assinalam a alexitimia incluem dificuldades para descrever sentimentos – os próprios ou os de outrem – e um vocabulário emocional seriamente limitado. Eis o problema maior de se conviver com um alexitímico. Não é que eles não sintam, mas não sabem – e, sobretudo, não podem expressar em palavras – precisamente quais são seus sentimentos. É comum um parceiro de um portador de alexitimia pensar que seu/sua parceiro(a) não tem coração ou que possua um coração de gelo.

Infelizmente, o silêncio emocional de um alexitímico contagia os que estão à sua volta, transformando um ambiente, outrora feliz, num cemitério de vivos. Com o tempo, o distúrbio, se não for tratado, tende a se agravar, levando o paciente a somatizar os sintomas. Dores de cabeça, dores estomacais, perda de cabelo, aumento de peso, insônia, choro e, num extremo, câncer, são alguns dos efeitos que a incapacidade de verbalizar as emoções pode produzir. Terrível, não?

O rei Davi parece ter sido tomado pela alexitimia em pelo menos um episódio: O adultério com Bate-Seba e o assassinato de Urias (2 Sm. 11). Davi não falou com ninguém sobre isso. Silêncio total. O silêncio perdurou até o dia em que o profeta Natã o confrontou (2 Sm. 12.1-15). O que aconteceu com Davi durante o período que vai do crime à conversa com Natã?

Depois do arrependimento, o próprio rei nos responde essa pergunta. No Salmo 32.3, lê-se: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia”. Davi quase sucumbiu ante o peso da sua consciência. O silêncio acerca dos seus pecados fazia os seus ossos “envelhecerem”. A ideia hebraica do termo “envelheceram” é que eles foram gastos pelo uso contínuo e excessivo. A expressão “ossos” pode ser “substância, essência”. O Salmo nos revela um Davi desconhecido. Um homem fraco, prestes a explodir. Talvez a expressão correta seja implodir, pois ele estava sendo destruído de dentro para fora. E tudo por não ser capaz de falar de uma emoção – no caso, a culpa – sentida.

Por nos conhecer tão bem, Deus, há muito tempo, ensinou-nos a cura para esse mal. Precisamos falar sobre o que sentimos. E precisamos falar para as pessoas que amamos. Deus quer que falemos sobre nossos sentimentos, nossas culpas e nossos desejos. A desobediência a esse princípio causará a nossa própria ruína.

Veja o que o filho de Davi ensinou a partir do que aprendera com o silêncio de seu pai:
* Lidando com a ansiedade: “A ansiedade no coração do homem o abate, mas a boa palavra o alegra” (Pv. 12.25). Se você guardar a ansiedade e tentar lidar com ela sozinho e calado, você será abatido! Fale com alguém e veja o resultado.

* Lidando com o pecado: “O que encombre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv. 28.13). Pecados não devem ser escondidos em lugar nenhum. Muito menos em nosso íntimo. A graça perdoadora está ao alcance de nossa confissão. Deus disse isso.

Salomão sabia que fechar-se em si mesmo não é solução, ao contrário, é problema. Séculos depois do sábio rei, a psiquatria chegou à seguinte recomendação para os alexitímicos: “Se você conseguir colocar em palavras o que está sentindo, o sentimento fica sob seu controle”.

Não tem jeito. Comece a falar!

Rev. Renato Arbués.

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