quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A TUA PRÓPRIA BOCA TESTIFICOU CONTRA TI

Davi estava em Ziclague, descansando da última batalha, acontecida há dois dias. Ao terceiro dia, chega um homem ao arraial “com as vestes rotas e terra sobre a cabeça”. Era um amalequita que havia conseguido fugir do arraial de Israel, devastado pelos filisteus. O homem trazia uma notícia: o rei Saul e seu filho, Jônatas, estavam mortos. Ele os havia matado.


A ironia da história fica por conta do desfecho. Ele aguardava ser recompensado por Davi. Afinal, com a morte de Saul, Davi poderia reinar sobre Israel tranquilamente, sem um rival. “Davi vai ficar tão feliz, que me presenteará com ouro, roupas finas e, quem sabe, um cargo no palácio”, deve ter pensado o amalequita. Ao invés disso, Davi chamou um de seus soldados e deu a seguinte ordem: “Vem, lança-te sobre esse homem”. O soldado feriu o mensageiro, e este morreu. Essa história pode ser lida no Segundo Livro de Samuel, capítulo 1.


O rei Davi não suportou a impertinência de um homem que havia acabado de matar o Ungido do Senhor e, ainda por cima, se vangloriava de tal fato. Quem conhece a história sabe que o amalequita estava mentindo. Saul havia cometido suicídio. O futuro rei de Israel ficou tão furioso que ordenou a morte do mentiroso. Foi então que Davi pronunciou as palavras que dão título a essa mensagem: “A tua boca testificou contra ti” (2 Sm. 1.16).


É impossível ler essa história e não meditar nas inconsequências de nossas palavras. Por razões diferentes das do amalequita, os homens têm falado coisas que testificam contra si mesmos. São promessas não cumpridas, votos desfeitos, compromissos ignorados, juras falsas, calúnias, mentiras, ofensas...

Não faz muito tempo, um senhor de meia-idade teve de ouvir de um comerciante a seguinte frase: “Você? Você se diz crente? Mentira!”. A indignação do comerciante se deveu ao não pagamento de uma dívida e à tentativa, por parte do “crente” de adquirir mais uns produtos.


“Você se diz crente?”, como deve ser constrangedor ouvir isso!


É bom que se afirme que vida cristã não é vida perfeita. Não se está defendendo aqui a absoluta necessidade de conduta perfeita a fim de evidenciar-se cristão. Isso seria uma mistura de legalismo com farisaísmo.


Como calvinistas, afirmamos as verdades bíblicas como as da Depravação Total e Pecaminosidade Humana. Além, claro, da maravilhosa doutrina da Graça Irresistível de Deus e da Santidade dos crentes. E como calvinistas cremos tanto na Soberania de Deus quanto na Responsabilidade dos Homens. Nossa santificação vem de Deus, mas isso não elimina nossa responsabilidade de buscá-la e vivê-la na obediência aos preceitos cristãos.


O apóstolo Paulo, como bom calvinista, equilibrava essas duas verdades com uma naturalidade desconcertante para alguns: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1 Co. 15.10).


Os crentes de hoje estão no meio de uma guerra. Estamos, sim, combatendo o bom combate. Mas, quem são os nossos inimigos? Satanás, o mais forte deles; o mundo, o mais “tristemente prazeroso”; e, a carne (a natureza humana), a quem somos mais vulneráveis. Se empenharmos todas as nossas forças na luta contra um desses inimigos – Satanás, por exemplo – ficamos expostos aos outros dois. Logo, precisamos, como ensinou Jesus, “vigiar e orar, para que não entreis em tentação”.


Portanto, tomemos cuidado a fim de não sermos derrotados por nós mesmos, sim, pela nossa própria boca. Falemos sempre a verdade, cumpramos sempre a nossa palavra, sejamos leais e honestos, esforcemo-nos para sermos achados fiéis à Palavra que professamos.


Talvez se o amalequita tivesse vivido alguns anos mais tarde, nos dias de Salomão, e tivesse ouvido e obedecido os conselhos do Sábio Rei, quem sabe, não teria tido uma morte tão ingrata: “Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus [...]; Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. [...] Não consintas que a tua boca te faça culpado, nem digas diante do mensageiro de Deus que foi inadvertência...” (Ec. 5.1-6).

Rev. Renato Arbués.

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