O que significa fazer justiça? Essa dúvida me
veio à mente depois do anúncio da prisão de pessoas importantes envolvidas no
esquema de corrupção popularmente conhecido como “mensalão”. Enquanto
ex-poderosos se entregavam à Polícia Federal, os repórteres se revezavam em
narrativas patrióticas em que um mantra era repetido: “A justiça, finalmente,
está sendo feita!”
Se entendi bem a opinião dos repórteres, a justiça é
feita sempre que há prisões de pessoas condenadas pelos órgãos de justiça. Foi
o que houve. Logo, assistimos ao vivo e no conforto de nossa casa, a justiça
sendo feita a pessoas que, historicamente, estavam distantes de qualquer noção
de justiça.
O que foi o mensalão? Em sua essência, o mensalão
consistiu em um esquema bem simples de entender: desvio de recursos para a
compra de apoio político e pagamento de dívidas. Que ninguém nos leia, mas, cá
pra nós, você acha que esse esquema foi único? Será que em outros tempos e lugares
esquemas assim não se multiplicam?
É isso que me deixa duvidoso em aceitar que a
justiça foi feita. Talvez devêssemos falar de justiça sendo feita apenas
naquele caso específico, pois, até onde
minha memória alcança, não me
recordo de políticos sendo presos da forma como aconteceu no último dia da
Proclamação da República. Mas, insisto, a justiça foi mesmo feita?
Bem, entre a entrevista do então deputado Roberto
Jefferson, detalhando o esquema, e a prisão dos mensaleiros, lá se foram 8
anos. Por oito anos, os corruptos levaram vida normal, viajaram, compraram,
passearem, enfim, viveram como se nada tivesse acontecido. Se houve justiça,
convenhamos, ela demorou um bocado!
O julgamento se deu no Supremo Tribunal Federal. As mais
brilhantes (?) mentes do país analisaram detalhadamente o caso e emitiram o seu
parecer. Alguns juízes se mostraram extremamente desconfortáveis em condenar
alguns réus, não faltando juiz que até elogiasse a trajetória de condenados.
Também fomos apresentados aos tais “embargos infringentes”, deferência aos
nobres réus que tiveram no mínimo 4 votos a seu favor. Enfim, se houve justiça,
foi aplicada com muita delicadeza.
A sensação é a de que todos são iguais perante a Lei,
mas, uns são mais iguais que os outros. Resta, portanto, a fim de que não fique
dúvida sobre a justiça, confiar nas palavras do salmista: “Ele mesmo julga o
mundo com justiça; administra os povos com retidão” (Sl. 9.8).
A justiça de Deus, essa, sim, é imparcial. E não falha!
Rev. Renato Arbués.
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