sábado, 11 de janeiro de 2014

SE JESUS CONHECESSE O CURUPIRA!

Nos matos de Goiás, há muito tempo, ouvi a história do Curupira. Um ser encantado, protetor dos animais e da floresta. Dizem que ele odeia caçadores, lenhadores e pessoas que agridem a floresta. Ele é um sujeito baixinho, de cabelos avermelhados e pés voltados para trás. Muito feio, portanto.

Cada personagem mítico/folclórico possui algo da sabedoria popular. Com o Curupira não é diferente. Sua história é contada com o propósito de afastar pessoas más do campo e proteger os animais silvestres. Pelo sim, pelo não, alguns poucos que ficassem na dúvida quanto a existência ou não desse ser evitavam destruir a fauna e a flora. Um detalhe, no entanto, chama a atenção: O Curupira faz o bem se utilizando da dissimulação, do engano, da trapaça. Os pés voltados para trás servem para despistar seus possíveis perseguidores.

Imagine um pé voltado para trás! O corpo e a cabeça apontando para uma direção e os pés, para outra. Eu acho que, às vezes, até o Curupira deve se confundir.

Como sou pastor, tenho a tendência de espiritualizar quase tudo. Admito que, de vez em quando, a gente exagera um pouco. Posso estar fazendo isso aqui, com a história do Curupira. Mas é um risco que corro deliberadamente. Entenderei, portanto, qualquer crítica feita pelo leitor referente à comparação que farei entre o Curupira e um tipo de cristão.

Valho-me, deixo claro, de apenas um elemento estético na rica imagem dessa figura exótica: cabeça para um lado e pés para outro. Tomo isso como tipo da corrupção da mais nobre atividade humana: Pensar.

Julgo que nossas decisões, as mais corretas, são tomadas com a cabeça, aqui na acepção de entendimento, inteligência, reflexão. Antes de agirmos, pensamos nas consequências, no passo a passo, nas circunstâncias. Isso, dizem alguns, é ser racional. E racionalidade, penso eu, é coisa de cabeça.

Depois do planejamento vem a execução, o agir. Ora, se escolhi bem um caminho, se ponderei as variáveis dessa escolha, se decidi que, para chegar onde quero, determinado rumo é o melhor, resta-me segui-lo com firmeza, andar por ele até cruzar a linha de chegada. Meus pés, agora, serão os responsáveis por essa etapa.

Então, procure idealizar uma pessoa cuja cabeça aponte para uma direção e os pés a levem para outra! Essa pessoa seria uma vítima? Teria ela condições de chegar a algum lugar na vida? Seria, alguém assim, digno de nossa confiança? Mereceria respeito um ser cuja cabeça aponta para o norte enquanto os pés caminham para o sul? Um indivíduo assim seria um bom companheiro de viagem?

Na época de Jesus não se falava de Curupira. Mas, se falassem, certamente nosso Senhor teria feito referência a ele, quando disse: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt. 15.8).

Pra quem acha o Curupira um bicho feio, tente imaginar um ser cujos beiços apontem para o céu e o coração, para o inferno. Esse bicho existe. Jesus o chamou de hipócrita!

Rev. Renato Arbués.

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