quinta-feira, 2 de junho de 2016

Meu Pai!

A Oração do Senhor, o Pai Nosso, talvez seja a passagem mais conhecida da Bíblia. Mesmo em nosso mundo anticristão, ela é amplamente ensinada e aprendida, mesmo por pessoas que raramente frequentam uma igreja.

Mas, o que significam essas palavras? A oração possui algum poder mágico, que atue naqueles que a oram? A simples repetição dessas palavras pode mudar a nossa sorte?

Antes de tudo, é preciso destacar que a Oração do Pai Nosso é um texto teológico, pois nos ensina a respeito de Deus, e todo ensino a respeito de Deus, é chamado de Teologia. Isso significa que Jesus ensinou aos discípulos a pensar a respeito de Deus e a falar com Ele de modo razoável.

“Vós orareis assim: Pai Nosso, que estás no céu”. Nada é mais importante na oração do que à pessoa à qual se dirige essa oração. No mundo antigo, havia muitos deuses, e era quase impossível referir-se a um deles. A evidência do NT sugere que os israelitas não se dirigiam a Deus como “Pai”, pois o uso dessa palavra implicava um tipo de relacionamento inaceitável com Deus. Para eles, ser filho de Deus significava participar da natureza divina, e isso era impossível.

Ao chamar Deus de Pai, Jesus escandalizou os judeus piedosos, pois na mente desses homens, Ele estava afirmando igualdade com Deus. O fato de Jesus ter ensinado seus discípulos a orar a Deus como o Pai deles era, portanto, algo extremamente ousado no contexto religioso daquela época.

Pode-se afirmar que “Pai” equivale a “Criador”. Entretanto, ainda que isso seja verdadeiro, o uso bíblico do termo vai além. Jesus chamava Deus de Seu Pai, mas Jesus não foi criado por Deus. Ele é Deus (Jo. 1.1). Na verdade, todos os habitantes da terra, mesmo Satanás e seus anjos, poderiam chamar Deus de Criador com legitimidade. Entretanto, as forças do mal jamais se referiram a Ele como Pai. O uso da palavra "pai" implica afinidade espiritual que ultrapassa o relacionamento físico, e esse aspecto é uma novidade exclusiva do ensinamento de Jesus.

Ao ensinar os discípulos a orar "Pai nosso", Jesus os conduziu ao seu próprio relacionamento com Deus. Todavia, que tipo de relacionamento era esse, e em que proporção é possível aos discípulos participarem dele?

Quão apropriado é o uso da palavra "Pai" para descrever nosso relacionamento com Deus! As gerações precedentes não tinham problemas com isso. Jesus ensinou os discípulos a orar dessa maneira, e isso lhes era suficiente.

No entanto, por que Deus nos amaria e desejaria que passássemos a eternidade com ele, quando lhe demos as costas e nada fizemos para merecer esse tratamento? A razão é que fomos criados originariamente à imagem dele, com a intenção de que vivêssemos com Ele para sempre. A imagem de Deus em nós é mais bem explicada com a nossa personalidade, ou seja, a habilidade de estabelecer relacionamentos com outras pessoas e mantê-los, quer sejam humanas quer divina.

Por sermos humanos, dispomos da capacidade inata de relacionamento com Deus, que nada pode alterar ou diminuir. Mesmo quando lhe desobedecemos a vontade, a imagem de Deus permanece em nós e nos faz recordar de que temos um relacionamento com ele.

Portanto, orar "Pai nosso" preconiza, em primeiro lugar, a confissão de que Jesus tem o direito de orar a Deus dessa maneira porque Deus é seu pai natural, ao passo que, em relação a nós, trata-se de um privilégio do qual graciosamente nos foi permitida a participação. Isso se dá por termos sido unidos a Cristo pelo poder do Espírito Santo, o que nos capacita a orar de forma legítima e eficaz por termos sido adotados por Cristo.

Orar "Pai nosso" é entrar em um novo relacionamento com Deus, enraizado em seu ser interno, que nos dá acesso à sua mente, algo que jamais ocorreria de outra forma.

Ao transformar nosso relacionamento com Deus do nível de mestre e servo para o de família, Jesus alterou tudo. O relacionamento que ele nos proporcionou é regido pelo amor.

Por fim, na condição de Pai, Deus concedeu-nos o destino eterno. Bons pais deixam provisões para os filhos, fazem planos para o futuro deles e realizam grandes sacrifícios para que os filhos tenham o melhor que eles puderem prover. O que os pais humanos alcançam em grau limitado, com muito sacrifício, pois mesmo os pais mais ricos são incapazes de nos dar tudo de que precisamos, Deus nos concede com a plenitude de seu coração e de seus recursos. A herança que ele nos legou não é finita nem perecível na verdade, ilimitada e eterna em escopo de duração. Não se trata de algo calculável em termos de bens e riqueza monetária, mas de algo muito maior que isso.

Trata-se na verdade de uma posição em seu reino, o grau mais elevado de união e comunhão possíveis para com ele.

Vamor orar? "Pai nosso, que estás no céu..."

Rev. Renato Arbués (adaptado)

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