A
Oração do Senhor, o Pai Nosso, talvez seja a passagem mais conhecida da Bíblia.
Mesmo em nosso mundo anticristão, ela é amplamente ensinada e aprendida, mesmo
por pessoas que raramente frequentam uma igreja.
Mas,
o que significam essas palavras? A oração possui algum poder mágico, que atue
naqueles que a oram? A simples repetição dessas palavras pode mudar a nossa sorte?
Antes de tudo, é preciso destacar que a Oração do Pai Nosso é um texto
teológico, pois nos ensina a respeito de Deus, e todo ensino a respeito de
Deus, é chamado de Teologia. Isso significa que Jesus ensinou aos discípulos a
pensar a respeito de Deus e a falar com Ele de modo razoável.
“Vós
orareis assim: Pai Nosso, que estás no céu”. Nada é mais importante na oração
do que à pessoa à qual se dirige essa oração. No mundo antigo, havia muitos
deuses, e era quase impossível referir-se a um deles. A evidência do NT sugere
que os israelitas não se dirigiam a Deus como “Pai”, pois o uso dessa palavra
implicava um tipo de relacionamento inaceitável com Deus. Para eles, ser filho
de Deus significava participar da natureza divina, e isso era impossível.
Ao
chamar Deus de Pai, Jesus escandalizou os judeus piedosos, pois na mente desses
homens, Ele estava afirmando igualdade com Deus. O fato de Jesus ter ensinado seus
discípulos a orar a Deus como o Pai deles era, portanto, algo extremamente ousado
no contexto religioso daquela época.
Pode-se
afirmar que “Pai” equivale a “Criador”. Entretanto, ainda que isso seja
verdadeiro, o uso bíblico do termo vai além. Jesus chamava Deus de Seu Pai, mas
Jesus não foi criado por Deus. Ele é Deus (Jo. 1.1). Na verdade, todos os
habitantes da terra, mesmo Satanás e seus anjos, poderiam chamar Deus de
Criador com legitimidade. Entretanto, as forças do mal jamais se referiram a
Ele como Pai. O uso da palavra "pai" implica afinidade espiritual que
ultrapassa o relacionamento físico, e esse aspecto é uma novidade exclusiva do
ensinamento de Jesus.
Ao
ensinar os discípulos a orar "Pai nosso", Jesus os conduziu ao seu próprio
relacionamento com Deus. Todavia, que tipo de relacionamento era esse, e em que
proporção é possível aos discípulos participarem dele?
Quão
apropriado é o uso da palavra "Pai" para descrever nosso relacionamento
com Deus! As gerações precedentes não tinham problemas com isso. Jesus ensinou
os discípulos a orar dessa maneira, e isso lhes era suficiente.
No
entanto, por que Deus nos amaria e desejaria que passássemos a eternidade com
ele, quando lhe demos as costas e nada fizemos para merecer esse tratamento? A
razão é que fomos criados originariamente à imagem dele, com a intenção de que
vivêssemos com Ele para sempre. A imagem de Deus em nós é mais bem explicada
com a nossa personalidade, ou seja, a habilidade de estabelecer relacionamentos
com outras pessoas e mantê-los, quer sejam humanas quer divina.
Por
sermos humanos, dispomos da capacidade inata de relacionamento com Deus, que
nada pode alterar ou diminuir. Mesmo quando lhe desobedecemos a vontade, a
imagem de Deus permanece em nós e nos faz recordar de que temos um relacionamento
com ele.
Portanto,
orar "Pai nosso" preconiza, em primeiro lugar, a confissão de que
Jesus tem o direito de orar a Deus dessa maneira porque Deus é seu pai natural,
ao passo que, em relação a nós, trata-se de um privilégio do qual graciosamente
nos foi permitida a participação. Isso se dá por termos sido unidos a Cristo
pelo poder do Espírito Santo, o que nos capacita a orar de forma legítima e
eficaz por termos sido adotados por Cristo.
Orar
"Pai nosso" é entrar em um novo relacionamento com Deus, enraizado em
seu ser interno, que nos dá acesso à sua mente, algo que jamais ocorreria de
outra forma.
Ao
transformar nosso relacionamento com Deus do nível de mestre e servo para o de
família, Jesus alterou tudo. O relacionamento que ele nos proporcionou é regido
pelo amor.
Por
fim, na condição de Pai, Deus concedeu-nos o destino eterno. Bons pais deixam
provisões para os filhos, fazem planos para o futuro deles e realizam grandes
sacrifícios para que os filhos tenham o melhor que eles puderem prover. O que
os pais humanos alcançam em grau limitado, com muito sacrifício, pois mesmo os
pais mais ricos são incapazes de nos dar tudo de que precisamos, Deus nos
concede com a plenitude de seu coração e de seus recursos. A herança que ele nos
legou não é finita nem perecível na verdade, ilimitada e eterna em escopo de
duração. Não se trata de algo calculável em termos de bens e riqueza monetária,
mas de algo muito maior que isso.
Trata-se
na verdade de uma posição em seu reino, o grau mais elevado de união e comunhão
possíveis para com ele.
Vamor orar? "Pai nosso, que estás no céu..."
Rev. Renato Arbués (adaptado)
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