quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O COMPLÔ I

Estive pensando a respeito de minha fé. Penso que todo homem, ao menos uma vez na vida, deveria examinar a base de suas convicções e, se preciso, substituí-las, ou confirmá-las definitivamente. Estive pensando sobre meu cristianismo. E resolvi aceitar que fui vítima de um complô.

O dicionário Houaiss define complô como “trama secreta combinada entre diversos indivíduos contra uma autoridade, um personagem público, uma instituição”. Como não sou autoridade nem personagem pública, fico com a segunda acepção do mesmo dicionário, que retrata um complô como “qualquer projeto tramado secretamente entre duas ou mais pessoas”.

Assim, decidi pensar que mentiram pra mim. Cristo não é o Filho de Deus, não morreu numa cruz para me salvar, não ressuscitou. Ele foi, na verdade, um bom judeu, cumpridor de seus deveres e que apresentou uma nova interpretação da Lei, pautada no amor a Deus e ao próximo como bens supremos.

Fiquei aliviado. Agora, certamente, seria aceito entre os intelectuais e os caras mais bacanas que há no mundo. Tanto tempo vítima de superstições de judeus que acabei perdendo o bom senso e a inteligência. Chega. A partir de agora, serei livre. Serei como Marx, Nietzsche, Sartre.

Depois da euforia de me sentir livre do erro, resolvi analisar meu novo estado. Comecei pelos meus novos heróis: Marx, Nietzsche e Sartre.

Marx era sustentado por Engels. Na maior parte do tempo, não obteve êxito com seus escritos. Passou fome, foi despejado algumas vezes. Honestamente, penso que não vale a pena defender uma ideia que fará de mim um parasita. Desisti desse herói.

Nietzsche, o professor mais famoso de toda a Europa, morreu babando, preso num quarto, dizendo-se ora Cristo, ora o Anticristo. Sua irmã chegou ao ponto de cobrar ingresso para quem quisesse vê-lo. Esse dinheiro ajudava no tratamento e sustento do meu ex-herói.

Sartre era homem fino. Amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Taí um cara que vale a pena seguir! Mas, seguir pra onde? Ele mesmo dizia que não sabia para onde ia, que seu caminho era construído enquanto caminhava! “Casado” com uma filósofa, mantinha um relacionamento aberto, em que ambos tinham amantes. Como dizem os baianos, “não dá pra mim, não!” Caí fora.

Então, meu amigo, fiquei num mato sem cachorro. Desisti da minha fé por causa de grandes homens que, na verdade, de grande não tinham nada! Mas, se eles não eram ninguém, certamente, os inventores do cristianismo também não haveriam de ser.

Mateus, cobrador de impostos de segunda categoria. Marcos, discípulo de Pedro, e só. Lucas, médico, pesquisador. Esses três criaram os evangelhos. Dá pra confiar? Eles criaram um personagem fictício, atribuíram a ele diversos ensinamentos, deram-lhe uma família, um nome e inventaram que realizava milagres, incluindo ressurreição de mortos. Quanta bobagem!

Como fiz antes, fui analisar a vida desses caras. Como você sabe, criar um personagem não é fácil. Torná-lo conhecido, então, é difícil. Fazer as pessoas se identificarem com ele é muito raro. Levar leitores a manterem uma relação pessoal com um personagem a ponto de morrer por ele, impossível! Aí, a pulga que vive na minha orelha me incomodou. “Como um cobrador de impostos, um médico e um discípulo de alguém foram capazes da proeza de inventarem um personagem tão fascinante como Jesus?” Como fizeram isso? Dois mil anos e nunca foram contestados definitivamente! Ninguém provou que estavam errados, que Jesus não existiu, que tudo era uma farsa. Ao invés disso, o personagem que eles “criaram” mudou a vida de pessos simples e de reis, de nações ricas e pobres. Livrou viciados, restaurou famílias, consolou aflitos, amparou necessitados, acolheu os desamparados.

Então, comecei a ter dúvida sobre quem, de fato, estava promovendo um complô.

Continua!

Rev. Renato Arbués.

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