domingo, 23 de março de 2014

JUSTIFICATIVAS

Saul foi o primeiro rei de Israel. Foi escolhido por ser alto, forte e corajoso. Sua figura destacava-se de longe da dos demais hebreus. De acordo com o livro de Samuel, “estando ele (Saul) no meio do povo, era o mais alto e sobressaía de todo o povo do ombro para cima” (1 Sm. 10.23). Rapaz novo, representava a esperança de que Israel pudesse deixar a condição tribal e tornar-se um império, suplantando as nações rivais.

Acontece que, como diz o ditado, “quem vê cara, não vê coração”. O espírito de Saul não estava à altura de seu físico. Saul era mais forte do que nobre. Parece que o cultivo do físico não permitiu-lhe tempo para desenvolver o caráter. Se os hebreus podiam confiar na força do seu rei, infelizmente, não podiam esperar muito de sua personalidade.

A Bíblia descreve Saul como um homem desobediente a Deus. Mas, ressalve-se que, a desobediência tanto pode ser causa como efeito do pecado. Há momentos em que, por desobedecerem a uma ordem clara, os homens pecam. Nessa categoria encontra-se a maior parte dos fracassos humanos.

Contudo, há os pecados aos quais o homem é conduzido devido à sua personalidade. Por exemplo, um homem iracundo facilmente é levado a desobedecer o mandamento de amar e perdoar. De igual maneira, uma pessoa tímida deve lutar contra a tentação de não obedecer ao mandamento de “ir pelo mundo e evangelizar”. Perceba, caro leito, que, nesses casos, a desobediência é efeito de uma falha no caráter.

Na minha opinião, na maior parte das vezes, Saul foi derrotado por defeitos em sua personalidade. Tão logo se viu rei, revelou sua condição. Primeiro, impaciente com a demora de Samuel, resolveu, ele mesmo, oferecer sacrifício, privilégio exclusivo dos sacerdotes. Confrontado por Samuel, Saul justificou assim a sua desobediência: “Vendo que o povo se ia espalhando daqui, e que tu não vinhas nos dias aprazados, e que os filisteus já se tinham ajuntado em Micmás, eu disse comigo: Agora, descerão os filisteus contra mim a Gilgal, e ainda não obtive a benevolência do SENHOR; e, forçado pelas circunstâncias, ofereci holocaustos” (1 Sm. 13.11-12, grifos meus).

Repare, leitor, que Saul não admitiu ter errado! Ele tomou para si algo que apenas sacerdotes podiam fazer. Saul era fazendeiro, não pertencia a uma família sacerdotal. Ponto. Ele não deveria, sob nenhuma circunstância, realizar aquela cerimônia. Ele desobedeceu. De acordo com o manual de Deus, ele deveria ter-se arrependido, confessado o pecado e alcançaria a misericórdia. Mas, o que ele fez? Justificou.

“Eu disse comigo”, quer dizer, ninguém me entende, só eu! Se eu ganhasse um real por cada vez que já ouvi algo parecido como justificativa de pecado, provavelmente, teria um carro melhor. Saul não precisou conversar com ninguém, não procurou nenhum conselho. Pra quê, se suas convicções já estavam estabelecidas?

Num segundo momento, Samuel incumbe Saul de uma tarefa determinada por Deus: O rei deveria punir os amalequitas (se você quiser conhecer a história, leia 1 Sm. 15). A missão estabelecia que tudo devia ser destruído, homens, gado, casas, tudo. Saul cumpre a tarefa ao pé da letra. No entanto, resolve poupar Agague (o rei dos amalequitas) “e o melhor das ovelhas e dos bois, e dos animais gordos, e os cordeiros, e o melhor que havia e não os quiseram destruir totalmente” (1 Sm. 15.8-9).

Novamente, cabe a Samuel repreender o rei. A cara de pau de Saul é tão grande que, ao ouvir que havia desobedecido a Deus, ele justificou assim: “Pelo contrário, dei ouvidos à voz do SENHOR e segui o caminho pelo qual o SENHOR me enviou; e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e os amalequistas os destruí totalmente; mas o povo tomou do despojo ovelhas e bois, o melhor do designado à destruição para oferecer ao SENHOR, teu Deus, em Gilgal” (1 Sm. 15.20-21).

É nesse ponto que eu fico indignado. Saul insiste que obedeceu a Deus desobedecendo! Você entende? Deus mandou matar Agague, Saul achou melhor deixá-lo vivo. Deus mandou destruir o gado. Saul preferiu poupá-lo. E descaradamente diz ter feito exatamente o que Deus mandou!

Pobre Israel! Escolheu pela aparência, pela fala bonita, pelo sorriso no rosto, pelo porte físico, pelo tapinha no ombro, pelas palavras bonitas... Se deu mal. Caráter tem a ver com a presença do Espírito Santo, com vida devocional, com honra, com compromisso. Saul não conseguia nada disso.

Só para contrastar, o segundo rei de Israel pensava ligeiramente diferente. Para ele, um homem de Deus é aquele que “vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade [...] o que jura com dano próprio e não se retrata” (Sl. 15).

Se você pretende se casar, contratar um funcionário, firmar uma sociedade, eleger um oficial (pastor, presbítero e/ou diácono), namorar, por favor, examine o caráter e não a aparência. John Piper disse que essa é a pior geração de cristãos de todos os tempos. Penso que a resposta está no fato de terem escolhido Saul como exemplo!

Rev. Renato Arbués.

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