Saul
foi o primeiro rei de Israel. Foi escolhido por ser alto, forte e corajoso. Sua
figura destacava-se de longe da dos demais hebreus. De acordo com o livro de
Samuel, “estando ele (Saul) no meio do povo, era o mais alto e sobressaía de todo
o povo do ombro para cima” (1 Sm. 10.23). Rapaz novo, representava a esperança
de que Israel pudesse deixar a condição tribal e tornar-se um império,
suplantando as nações rivais.
Acontece
que, como diz o ditado, “quem vê cara, não vê coração”. O espírito de Saul não
estava à altura de seu físico. Saul era mais forte do que nobre. Parece que o
cultivo do físico não permitiu-lhe tempo para desenvolver o caráter. Se os
hebreus podiam confiar na força do seu rei, infelizmente, não podiam esperar
muito de sua personalidade.
A
Bíblia descreve Saul como um homem desobediente a Deus. Mas, ressalve-se que, a
desobediência tanto pode ser causa como efeito do pecado. Há momentos em que,
por desobedecerem a uma ordem clara, os homens pecam. Nessa categoria encontra-se
a maior parte dos fracassos humanos.
Contudo,
há os pecados aos quais o homem é conduzido devido à sua personalidade. Por
exemplo, um homem iracundo facilmente é levado a desobedecer o mandamento de
amar e perdoar. De igual maneira, uma pessoa tímida deve lutar contra a
tentação de não obedecer ao mandamento de “ir pelo mundo e evangelizar”.
Perceba, caro leito, que, nesses casos, a desobediência é efeito de uma falha
no caráter.
Na
minha opinião, na maior parte das vezes, Saul foi derrotado por defeitos em sua
personalidade. Tão logo se viu rei, revelou sua condição. Primeiro, impaciente
com a demora de Samuel, resolveu, ele mesmo, oferecer sacrifício, privilégio
exclusivo dos sacerdotes. Confrontado por Samuel, Saul justificou assim a sua
desobediência: “Vendo que o povo se ia espalhando daqui, e que tu não vinhas
nos dias aprazados, e que os filisteus já se tinham ajuntado em Micmás, eu disse comigo: Agora, descerão os
filisteus contra mim a Gilgal, e ainda não obtive a benevolência do SENHOR; e, forçado pelas circunstâncias, ofereci holocaustos” (1 Sm. 13.11-12,
grifos meus).
Repare,
leitor, que Saul não admitiu ter errado! Ele tomou para si algo que apenas
sacerdotes podiam fazer. Saul era fazendeiro, não pertencia a uma família
sacerdotal. Ponto. Ele não deveria, sob nenhuma circunstância, realizar aquela
cerimônia. Ele desobedeceu. De acordo com o manual de Deus, ele deveria ter-se
arrependido, confessado o pecado e alcançaria a misericórdia. Mas, o que ele
fez? Justificou.
“Eu
disse comigo”, quer dizer, ninguém me entende, só eu! Se eu ganhasse um real
por cada vez que já ouvi algo parecido como justificativa de pecado,
provavelmente, teria um carro melhor. Saul não precisou conversar com ninguém,
não procurou nenhum conselho. Pra quê, se suas convicções já estavam
estabelecidas?
Num
segundo momento, Samuel incumbe Saul de uma tarefa determinada por Deus: O rei
deveria punir os amalequitas (se você quiser conhecer a história, leia 1 Sm.
15). A missão estabelecia que tudo devia ser destruído, homens, gado, casas,
tudo. Saul cumpre a tarefa ao pé da letra. No entanto, resolve poupar Agague (o
rei dos amalequitas) “e o melhor das ovelhas e dos bois, e dos animais gordos,
e os cordeiros, e o melhor que havia e não os quiseram destruir totalmente” (1
Sm. 15.8-9).
Novamente,
cabe a Samuel repreender o rei. A cara de pau de Saul é tão grande que, ao
ouvir que havia desobedecido a Deus, ele justificou assim: “Pelo contrário, dei ouvidos à voz do
SENHOR e segui o caminho pelo qual o SENHOR me enviou; e trouxe a Agague, rei
de Amaleque, e os amalequistas os destruí totalmente; mas o povo tomou do
despojo ovelhas e bois, o melhor do designado à destruição para oferecer ao
SENHOR, teu Deus, em Gilgal” (1 Sm. 15.20-21).
É
nesse ponto que eu fico indignado. Saul insiste que obedeceu a Deus
desobedecendo! Você entende? Deus mandou matar Agague, Saul achou melhor
deixá-lo vivo. Deus mandou destruir o gado. Saul preferiu poupá-lo. E
descaradamente diz ter feito exatamente o que Deus mandou!
Pobre
Israel! Escolheu pela aparência, pela fala bonita, pelo sorriso no rosto, pelo
porte físico, pelo tapinha no ombro, pelas palavras bonitas... Se deu mal.
Caráter tem a ver com a presença do Espírito Santo, com vida devocional, com
honra, com compromisso. Saul não conseguia nada disso.
Só
para contrastar, o segundo rei de Israel pensava ligeiramente diferente. Para
ele, um homem de Deus é aquele que “vive com integridade, e pratica a justiça,
e, de coração, fala a verdade [...] o que jura com dano próprio e não se retrata”
(Sl. 15).
Se
você pretende se casar, contratar um funcionário, firmar uma sociedade, eleger
um oficial (pastor, presbítero e/ou diácono), namorar, por favor, examine o
caráter e não a aparência. John Piper disse que essa é a pior geração de
cristãos de todos os tempos. Penso que a resposta está no fato de terem
escolhido Saul como exemplo!
Rev. Renato Arbués.
0 comentários:
Postar um comentário