quinta-feira, 12 de março de 2009

NINGUÉM ME VÊ!?


Antigamente se dizia que pra se sentir “homem ou mulher invisível” bastava morar em cidade grande. A correria, o atraso, as preocupações, enfim, o ritmo da cidade grande impedia às pessoas de se conhecerem, de observarem as roupas, de se olharem nos olhos, de saberem os nomes umas das outras. O cidadão metropolitano vive rodeado de milhares de outros cidadãos, porém, vive só. Ninguém o nota, a não ser que pratique algum ato que quebre a rotina da cidade grande.

Hoje, tristemente constatamos que morar no interior é a mesma coisa. Aqui estamos nos tornando cada vez mais individualistas, egoístas. Nossas casas vivem fechadas. Nosso rosto vive franzido. Estamos tensos. Com medo. E nos isolamos, e nos tornamos invisíveis.

José deve ter se sentido assim também. Ele estava preso há alguns meses quando recebeu a companhia de dois presidiários ilustres: o copeiro e o padeiro do rei. Ambos desagradaram ao rei e foram privados de sua dignidade. Na prisão, tiveram dois sonhos perturbadores. Contaram-nos a José, que os interpretou. O do copeiro era um sonho bom: seria reconduzido ao cargo e serviria a Faraó (Gn. 40.21). Já o sonho do padeiro era um sonho de morte: três dias depois, ele foi enforcado (Gn. 40.22).

Tão logo o copeiro recuperou seu status, o que ele fez? “O copeiro-chefe, todavia, não se lembrou de José, porém dele se esqueceu” (Gn. 40.23). Quem era José? Um preso qualquer, numa cela imunda, sem nome, sem importância. Invisível. Por dois anos, José continuou “desaparecido”, enfiado numa cela, não sendo ninguém. Até que Faraó teve um sonho.

Daqui pra frente você conhece a história. O único capaz de interpretar o sonho de Faraó foi José, que declarou fazer isso pelo poder de Deus (Gn. 41.15-16). Tomado de gratidão, o Faraó nomeou José como o segundo homem do Egito, honrando-o sobremaneira. Coisa que o padeiro não soube fazer.

E aqui está o ponto. Possivelmente, muitas pessoas já passaram pela nossa vida. Fomos importantes para algumas, para outras não. Fizemos o bem, nos dedicamos, colaboramos, fizemos o possível e o impossível para ajudar várias delas. O que recebemos em troca? Provavelmente nem um “obrigado”. O que fazer?

Nada. Como José, precisamos usar nossos dons e habilidades para ajudar os necessitados. O filósofo Aristóteles dizia que onde a necessidade de alguém se cruzasse com uma de nossas habilidades, nascia aí a vocação. É isso mesmo. Nossa vocação é fazer o bem. Nossa ordem é ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura. Haveria algo melhor do que isso para se fazer aos homens perdidos?

O Evangelho, vezes demais, exige mais do que nossas palavras. Ele pede dedicação de nossos bens, de nosso tempo, de nossas habilidades. E quase sempre não vemos retorno algum. Ao contrário, somos esquecidos, ignorados, esnobados.

E daí? Padeiros não enxergam tão bem como os reis!

“Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mt. 6.3-4).

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